Paulo Santos

Paulo Santos

 16/12/2024



    AS PALAVRAS DESPIDAS A Luz e a Sombra

    Nem sempre o Natal sempre foi um momento de extraordinária plasticidade. Digo-o e agarro o Natal que habita nas minhas estrela. Que guardo, secreto, no mais profundo do meu coração. E volto ao tempo em que o pinheiro adornado, com singelas luzes e afeto, tinha cheiro e seiva. Nesses dias o mundo que me rodeava vestia a alma de cores vibrantes e em redor de um círculo de fogo, num cenário quase mágico, a esperança e os afetos esvoaçavam sobre a fogueira ao som dos mais belos acordes da fraternidade. Sei que era menino. Acho que agora, quando escrevo, já seja velho e tenha perdido o Natal. Ou deixo que a consciência me proteja de surpresas. Sei que hoje se adornam as ruas com mil luzes, para que gente chegue aos magotes para admirarem o parto da eletricidade. Mesmo aí, com os bolsos e a alma gasta, os sorrisos parecem feitos de mármore a saciar a fome por dentro. Entre o vazio despido, frio, dos ecos descobre-se uma sinfonia nos ruídos, entre as frases abertas como navalhas. Como se toda a tristeza do mundo se cobrisse de luzes e eu fechasse os olhos para as não ver.

    O Natal já não é milagre. Apenas exuberância. O vazio que tantos escondem sob a barriga do pai-Natal. Um pulsar de faz-de-conta, contagiante como algodão-doce, a pairar no ar, como se o espírito Natalino tivesse o poder de transformar até as mais densas nuvens em pura luz.

    Essa plasticidade que serve, á medida, como uma máscara que encobre as feridas não curadas, os vazios existenciais e esta sociedade de brinquedo que nos vamos tornando e permitindo tornar. Não sei onde nos perdemos...mas entre luzes de faz de conta e país-Natais que não chegam a lugar nenhum o coração já não bate.

    As pessoas reúnem-se, apressadas, em torno das mesas, repletas de delícias e telemóveis, carregando dentro de si ecos de solidão. A aparência das infinitas e instantâneas consoadas repetidas, repletas de quem vier, contrasta com os sentimentos de desamparo que muitos enfrentam. O Natal torna-se um remorso. Um lembrete de que a felicidade externa não nos reflete, nem o vamos sendo, nas montras douradas repletas de boas-festas e consumismo.

    Nesse universo de contrastes, encontramos á deriva, almas distintas, náufragas nos seus Oceanos: a matriarca que se esforça para manter a tradição viva, mesmo quando seu coração anseia pela companhia que habitava a cadeira agora vazia ou o simples abraço dos seus netos; o jovem que, cercado de amigos, sente o peso da busca incessante por aprovação, pelo imediato e superficial; a criança que, com seus olhos gigantes, ainda acredita que o Natal pode ser tão açucarado como nos contos de fadas, ignorando as sombras que o cercam, enquanto rasga à pressa dezenas de embrulhos encostando os presentes ao lado. Espelhos da humanidade, onde a luz do Natal resplandece ao lado das inquietações que a vida, que o crescer, impõe. Outras vezes culpa.

    O que buscamos realmente nesta época do ano? Estamos aqui para celebrar o amor ou para preencher um vazio superficial?

    O Natal, com todo o seu esplendor, convida-nos a um mergulho profundo nas nossas emoções, encorajando-nos a encarar as verdades, pessoais e coletivas, mesmo que dolorosas.

    Nesse convite à reflexão reside a verdadeira magia do Natal. E nos desafia a transcendê-lo, a buscar não apenas ligações afetivas com o próximo, mas também a honestidade connosco. Ao reconhecermos os nossos egos, tantas vezes ocos, podemos começar a preenchê-los com propósito: a compaixão, a empatia e a gratidão. Só assim, a plasticidade do Natal ganhará uma nova dimensão: a autenticidade! A simplicidade da mensagem com que nasceu!

    Neste Natal, ao olharmos ao nosso redor e às luzes que brilham, que possamos lembrar que a beleza também está nas imperfeições, nas lutas e nos altos e baixos da vida. Que possamos traçar um caminho que vai além dos enfeites, um caminho que propicie um verdadeiro encontro de almas, onde o amor seja o que realmente nos une. Depois, fraternos, como onda imparável, possamos inundar o mundo de paz! Porque, na essência, o Natal é a celebração da vida, com todas as suas subtilezas, e a coragem de encontrar luz mesmo nas sombras mais profundas.

    Então sim! Será Natal! Seremos Natal !

    Paulo Santos 12 de Dezembro de 2024

    16/12/2024

    Paulo Santos