Sindicato dos guardas prisionais lamenta a estrutura física da prisão de Chaves e o método de instalação do sistema de videovigilância por reclusos

O Sindicato dos Guardas Prisionais criticou ontem a segurança das prisões em Portugal e assegurou que no Estabelecimento Prisional de Chaves, o sistema de videovigilância é montado pelos reclusos.

Esta quarta-feira também Rui Santos, dirigente do Sindicato Nacional do Corpo Guarda Prisional (SNCGP) lamentou a estrutura física da prisão de Chaves.

“A estrutura física da cadeia é de lamentar porque para além de não terem torres de vigilância, o muro da retaguarda do estabelecimento não existe. É um gradeamento que dá para uma escola. Entre a escola e o estabelecimento, não há uma estrutura, um muro físico, uma rede de separação. Qualquer recluso que venha cá fora trazer um caixote do lixo, à mínima distração, vai-se embora por onde ele quiser. Para o centro de saúde também conseguem ir pela esquina da parte de trás do estabelecimento sem problema nenhum”, assegurou.

Em declarações ao Canal Alto Tâmega, este dirigente do Sindicato dos guardas prisionais lamentou ainda a instalação do sistema de videovigilância pelos reclusos.

“Fui alertado que isto se estava a passar. Fui confirmar e é verdade”, disse.

Segundo Rui Santos, a montagem do sistema de videovigilância iniciou há cerca de dois meses. “O projeto do sistema de videovigilância que vai ser instalado para colocação de câmaras em pontos fulcrais serem reclusos a saber é complicado”, alertando que está comprometida a segurança.

“Eles vão ter conhecimento dos pontos mortos, eles sabem onde é que passam os cabos. Se for necessário cortar um fio eles sabem onde é que têm que cortar e estamos assim”.

“Escavações e tudo o que for necessário para a instalação do sistema, concordamos plenamente que isso seja feito por reclusos, não há problema nenhum, devidamente acompanhados que não é o caso. Agora o resto, já não conseguimos explicar”.

Questionado sobre a existência de [zonas mortas], o dirigente do SNCGP afirma que “é quase impossível não haver, nem que seja só ali meio metro, mas é quase impossível”.

“Normalmente as câmaras são rotativas, como existem na autoestrada, de controlo de tráfego que rodam, aproximam e afastam, mas de qualquer forma, em Chaves eles têm o projeto e vão saber para onde é que as câmaras vão estar a vigiar e o número delas”.

O Sindicato dos Guardas Prisionais disse ter conhecimento que há cerca de três anos estavam a ser instalados sistemas de videovigilância em todos os estabelecimentos, mas, desta prática foram confrontados recentemente.

“Eu nunca trabalhei nas [prisões] regionais, mas nas cadeias centrais, as ditas de complexidade alta como a de Vale de Judeus, e no Nordeste Transmontano só existe Izeda, isto foi colocado por civis que trabalham no estabelecimento, acompanhados de uma equipa da Direção Geral que normalmente, são guardas prisionais que sabem fazer essas ligações, mas que fizeram tudo. Pelos vistos agora, e com o desencadear desta situação é que nos estabelecimentos regionais, os mais pequenos, está a ser uma prática recorrente. Só soubemos agora. O que eu estranho é que depois do que aconteceu sábado, na segunda-feira a seguir em Chaves continua-se a fazer tudo normal, não há problema nenhum”.

Rui Santos diz ter alertado para a situação, mas sem sucesso. “Na altura denunciamos para que, pelo menos parassem, mas pelos vistos, ao dia de ontem continuou tudo igual (…)”.

Em setembro de 2022 dois reclusos deste estabelecimento prisional tentaram fugir da cela por um buraco que abriram no teto da casa de banho da própria cela. A fuga foi impedida pelos guardas prisionais.

O Canal Alto Tâmega tentou desde ontem falar com a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), mas até ao momento sem sucesso.

Sara Esteves

Foto: Carlos Daniel Morais