Luís
Sousa, ligado ao desporto desde a sua tenra idade, ao longo da sua carreira
como jogador, passou pelo futebol de formação, futebol de praia e pelo desporto
em que mais se focou, o futsal. No futebol fez toda a sua formação na AD
Flaviense, que serviu como alicerce para o futsal, onde passou por Hóquei
Flaviense, Sapiãos, Ervededo, Boticas, ADR Vila Castanheira e Carrazedo
Montenegro. Para além do futebol e do futsal, teve uma passagem pelas areias ao
serviço do GD Chaves, onde atuou no Campeonato Nacional e no Campeonato de
Elite. Em 2022, principiou a sua carreira enquanto treinador de futsal. Na sua
primeira experiência comandou o ACD Santo Estêvão e desde cedo conseguiu
resultados. Após uma excelente época na interdistrital, onde foi campeão
invicto, Luís Sousa colocou o emblema de Santo Estêvão nos campeonatos
nacionais. A temporada transata, foi a sua experiência de maior exigência, onde
novamente conseguiu bons resultados. Assegurou a permanência e chegou à fase
final de promoção à primeira divisão nacional de futsal feminino, onde ficou em
quinto lugar da prova.
“O
objetivo principal era cimentar o clube no nacional (…)”
Em
análise à temporada transata, o técnico de 38 anos não esconde o agrado pela
época que fez “(…) quer no campeonato, quer na taça foi muito bom,
principalmente na Taça, nós fomos eliminados pelo Torreense, que acabou por
chegar à final contra o Benfica (…) Mas estamos contentes pelo percurso que
fizemos na Taça e muito contentes pelo percurso que fizemos no campeonato.”.
Campeão
na época de estreia enquanto treinador
Na
época 2022/2023, Luís Silva assumiu a liderança do ADC Santo Estêvão, numa
altura em que atuavam no Interdistrital Vila Real/Bragança, onde conseguiu
sucesso muito rápido, “conseguimos o objetivo principal, que era ser campeão
distrital e depois íamos ter uma Taça Nacional muito difícil. Nós percebemos a
estrutura e o quadro competitivo da Taça Nacional e percebemos que era muito
difícil chegar à segunda divisão. Depois encontramos equipas com orçamentos
absurdos para equipas da distrital, com jogadoras a receber dinheiro. Mas tínhamos
que lutar com outras armas e pusemos o trabalho, a nossa raça transmontana em
campo e conseguimos esse brilharete que foi subir à segunda divisão.”.
Disparidade
de estrutura e mérito das jogadoras do ADC Santo Estevão
Abordado
em relação à disparidade estrutural que enfrentou aquando da subida à segunda
divisão, Luís Sousa assume maior dificuldade para o seu clube, “nós fomos jogar
um amigável a Braga e vimos logo a estrutura que lá estava, dez vezes melhor
que a nossa, com jogadoras a receber dinheiro numa distrital. O nosso clube não
paga às jogadoras, paga as despesas para as jogadoras virem jogar, as jogadoras
jogam por livre vontade, não recebem dinheiro. Isso é um facto que é de louvar
e dar os parabéns a elas porque são as verdadeiras obreiras disto. Acho que
temos que dar mais valor ao que nós fizemos do que o que essas equipas fizeram.
Eu além de treinador, sou um bocadinho de tudo, estou eu, o presidente e mais
uma ou outra pessoa a ajudar e temos que nos preocupar com tudo.”
Adaptação
à segunda liga e importância da experiência
Questionado
acerca da adaptação da equipa ao contexto de segunda liga, Luís Sousa revelou
como preparou o plantel para a nova realidade que se avizinhava: “olhei para o
plantel e vi que tinha ali três ou quatro jogadoras que já tinham alguma
bagagem de nacionais e isso também é importante, não é fundamental, mas é
importante ter essa experiência, porque muitos dos jogos que são disputados no
limite, essa experiência vem ao de cima. Essa foi a minha preocupação, no ano
passado, tentar reforçar a equipa com alguma experiência e fui buscar duas
jogadoras da minha confiança, que já não jogavam há algum tempo, duas jogadoras
que já têm muitos quilómetros nacionais que são a Ana (Ana Batista) e a Sofia
(Sofia Faria) que vieram dar uma bagagem nesse tipo de questão.”
“Conseguimos os três treinos por semana,
mas deparei-me com outra dificuldade (…)”
A questão da frequência de treinos e da
disponibilidade do espaço para realizar os mesmos é um tópico já discutido há
algum tempo pelo atual treinador do ACD Santo Estêvão. No dia 20 de junho de
2023, em declarações ao Canal Alto Tâmega, Luís Sousa lamentava a frequência de
treinos a que estava limitado e considerava insuficientes apenas dois treinos
semanais. Passada uma época, foi-lhe feita a mesma pergunta, o mesmo respondeu:
“Conseguimos os três treinos por semana, mas deparei-me com outra dificuldade,
até meio da época, conseguimos treinar três vezes, mas depois começava a ficar
desgastante para as atletas, que faziam viagem todos os dias para virem
treinar, em termos de despesas do clube, o orçamento começou a ficar curto.
Depois deparámo-nos numa segunda fase, onde vamos quatro vezes a Lisboa jogar,
só essas quatro idas a Lisboa foi metade do orçamento que o clube tem para a
época. (…) Em conversa com o presidente reduzimos de três para dois treinos e o
terceiro treino seria para as guarda-redes, um treino específico e foi assim
definida a parte final da época. Mas sim, tivemos essa oportunidade de treinar
as três vezes e que no início da época foi muito fundamental para cimentarmos
alguns processos e conseguimos fazer esta brilhante época.”
Dificuldades sentidas na nova realidade, a
segunda divisão
O técnico de 38 anos assume dificuldade, mas reconhece
crescimento na equipa. “O nível competitivo que encontramos em todas as
equipas era um nível de segunda divisão quase primeira, nós vínhamos habituados
a um nível de distrital, um campeonato distrital, do ano passado, que ganhamos
todos os jogos, que goleamos quase todos os jogos e depois encontramos, este
ano, uma dificuldade extra nesse sentido. Fez nos crescer muito, nos preparámo-nos
bem para essa situação e acho que demos uma boa resposta. Depois isto vem com
os jogos, não há maneira de dar a volta a isto, as atletas crescem a jogar,
temos que jogar estes jogos para elas crescerem e foi assim que ao longo da
época fomos construindo uma equipa forte, conseguindo amealhando pontos para
concretizar os objetivos.”.
Formação da ACD Santo Estêvão “Quatro
atletas dessa equipa de sub-15 já estão a começar a treinar com os seniores
(…)”
Como é habitual em todos os programas da Linha Lateral
da Rádio Alto Tâmega FM, a questão da formação foi novamente abordada, desta
vez, com um foco diferente, o futsal. “Já no ano passado tínhamos e este ano
voltamos a ter a equipa feminina sub-15, que disputou o campeonato
interdistrital de futebol e futsal da Associação (Associação de Futebol de Vila
Real), conseguimos ir à final contra o Abambres e perdemos, eu não consigo
perceber este formato, foi uma final a dois jogos, o primeiro jogo foi em Vila
Real e as miúdas tiveram que jogar futebol de sete, portanto desenquadrado
daquilo que nós queremos e depois jogamos o jogo de futsal, perdemos os dois
jogos e foram elas as campeãs. Mas este quadro competitivo para nós se calhar
não nos interessa tanto, porque se o nosso foco vai ser o futsal e nós queremos
formar em futsal, mas é importante elas competirem. Quatro atletas dessa equipa
de sub-15 já estão a começar a treinar com os seniores, uma inclusive, que é a
Sara Reis fez a segunda volta completa do campeonato de subida com 16 anos
pelos seniores e marcou o golo da vitória contra o Inter em que ganhamos 1-0,
uma miúda de 16 anos. Nós queremos esses patamares, queremos crescer, crescer
as miudas. À partida a Federação lançou um comunicado que iria, no próximo ano,
abrir um campeonato sub-15 feminino nacional e se o abrir estaremos lá, com
certeza absoluta. O princípio é levar estas miúdas até ao sub-19 e depois integrá-las
nos seniores para termos alguma base, para criarmos a nossa base de
recrutamento, para não termos que andar a atrás disto ou de aquilo, que é uma
dificuldade tremenda, ninguém quer vir para aqui e fazer duas horas de viagem
para vir treinar sem receber.”
Texto: Diogo Batista
Foto: Márcio Pires