Valpaços debateu o preço do azeite e o futuro da Olivicultura

O Congresso Nacional do Azeite debateu em Valpaços o preço, mitos e tabus, as alterações climáticas e o futuro do setor olivícola no âmbito da Feira Nacional de Olivicultura – Olivalpaços que teve lugar de 17 a 19 de maio. A 7ª edição deste congresso decorreu no Pavilhão Multiusos do concelho e contou com a presença de vários produtores do concelho valpacense, como André Teixeira, produtor de azeite biológico de Denominação de Origem Protegida (DOP), com projeto criado em 2015.

“A ideia principal era conseguirmos essencialmente ter um bocadinho mais de escala, quantidade, juntando três famílias, e sermos capazes de trabalhar um bocadinho a imagem, indo à procura daquilo que o mercado nos parecia que procurava, produtos mais ‘premium’, assegurar ao máximo a qualidade naquilo que tínhamos porque uma vez que estamos numa região em que, quantidade, quantidade nunca íamos competir então tínhamos mesmo que pegar na qualidade e tentar melhorá-la. Na altura fizemo-lo e desde aí temos feito o nosso percurso”, disse um dos responsáveis pela empresa SORESA.

Pela primeira vez, Nair Cristina Teté deixou a loja física onde vende sabonetes artesanais para participar neste evento. Há cinco anos a viver em Trás-os-Montes abraçou o projeto ‘Terra Rústica Sabões’. “Somos produtores de azeite em pequena escala (...) e sempre quis começar este projeto, de usar o azeite para fazer sabão natural e com as plantas também. O azeite é um emoliente, ele suaviza a pele, portanto uma pessoa quando lava a pele com sabão natural de azeite no fim, já não precisa de aplicar creme porque a pele já fica hidratada”, revelou o jornal de Chaves, Nair Cristina Teté.

O azeite é a segunda produção agrícola com maior peso na economia transmontana, a seguir ao vinho, e movimenta anualmente um valor bruto de 30 milhões de euros. No concelho de Valpaços, a produção média anual de azeitona é de 11 mil toneladas, dos quais se extraem cerca de dois milhões de litros de azeite. O certame vem “alavancar a economia”, disse o Presidente da Câmara Municipal.

O concelho de Valpaços é um concelho que assenta no setor agrícola. Este é mais um evento que vai alavancar a economia e que vai de certa maneira elucidar os agricultores sobre técnicas da oliveira, sobre o seu cultivo. (...) Portanto, para o concelho isto é muito bom, além de movimentar a economia concelhia elucida os agricultores”, destacou António Medeiros.

Também a Cooperativa de Olivicultores de Valpaços relembrou a qualidade do azeite produzida na região e valorizou o congresso. “A nível de economia é sempre bom, porque aparecem novos parceiros, aparecem compradores e cada vez que há aqui um congresso é mais conhecida a cooperativa e há mais contactos e mais vendas. Embora não possam ser muito grandes porque este ano o azeite está caro aparecem sempre novos compradores”. 

“Em tecnologia e avanço estamos sempre a evoluir, o que é hoje não é amanhã. Aprendemos sempre, mesmo com a Espanha e com outros países que estão aqui representados”, relembrou Paulo Ribeiro, responsável pela Cooperativa de Olivicultores de Valpaços que explicou ao Jornal de Chaves a diferenciação do azeite que chega ao mercado.

“Muitas pessoas não sabem o que é o azeite, vêm a palavra azeite e vão à prateleira tirar o mais barato. Há o azeite virgem que é um azeite mais maduro, um azeite que tem algum defeito. Há o azeite extra virgem que não tem nenhum defeito e há o azeite extra virgem DOP. O azeite extra virgem DOP é um azeite onde se sabe onde é o olival, quem é o proprietário, quando é feito, é totalmente diferente porque o azeite virgem não se sabe de onde é, pode dizer que é de Trás-os-Montes e ser de Espanha. O azeite DOP, de Denominação de Origem Protegida, é o azeite onde nós sabemos tudo, desde a oliveira até o consumidor”, esclareceu.

GOVERNO QUER AUMENTAR PRODUÇÃO NACIONAL DE AZEITE E MELHORAR O RENDIMENTO DOS AGRICULTORES

O Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, afirmou no dia de abertura da Olivalpaços que o objetivo do Governo passa por “aumentar a produção e até diversificar os mercados que ficam muito dependentes quer de Espanha, quer do Brasil” e de “melhorar o rendimento dos agricultores”.

“Sabemos que temos desafios a vencer como, as alterações climáticas e a seca, e por isso, está no programa do Governo um plano para o armazenamento e abastecimento eficiente da água”, disse à margem da 7.ª edição do Congresso Nacional do Azeite.

José Manuel Fernandes disse ainda que, o “Governo também está a fazer outra coisa, que é simplificar, desburocratizar”.

“Temos uma portaria que vai sair na próxima semana que vai ajudar, por exemplo, os agricultores que tem menos de 10 hectares que vão deixar de estar sujeitos a sanções e às regras de condicionalidade”, exemplificou o ministro.

Para além disso, apontou que o Governo vai também avançar para o que denominou de custos simplificados. “Vamos avançar também para o pagamento contra fatura, e o nosso objetivo nesta simplificação tem ainda um outro ponto, o de simplificarmos o licenciamento”, acrescentou.

O evento, que contou com três painéis e oradores nacionais e internacionais, ocorreu num momento em que a produção nacional de azeite “mais do que quintuplicou e as exportações aumentaram já mais de 12 vezes, tendo ultrapassado a fasquia dos 1.000 milhões de euros em 2023”, referiu o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo, que conta atualmente com 28 produtores e 12 instituições ligadas ao setor olivícola e oleícola, incluindo organismos do Estado, municípios e universidades, como seus associados.

A 7ª edição do Congresso Nacional do Azeite foi organizada pelo Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), em parceria com a Câmara Municipal de Valpaços, no âmbito da Feira Nacional de Olivicultura – Olivalpaços. O Congresso é uma iniciativa integrada no Projeto OLI(V)ALL-IN que é cofinanciada por fundos comunitários e nacionais através do PDR2020 e conta com um investimento de 46.551,01 euros.


Fátima Teixeira

Fotos: Carlos Daniel Morais