Vacaria em Chaves substitui humanos por ‘robots’ e ajuda a alimentar o país

Numa área de 60 hectares, encontra-se um efetivo de mais de 300 animais, do qual se contabiliza, neste momento, cerca de 130 vacas de ordenha. A exploração agrícola da família Barros, no Seixal, tem implementado um modelo na área da robotização da ordenha que faz desta propriedade uma das maiores explorações de leite do concelho.

Cada vaca é normalmente ordenhada duas a três vezes ao dia. Este método robotizado, que antes era feito por pessoas, permite extrair cerca de 4 mil e 500 litros por dia, que é armazenado num depósito e segue para distribuição ao final de dois dias. O leite é ‘colocado’ na Agros, União de Cooperativas de Produtores de Leite.

Para a família Barros este é um método mais preciso e que confere maior estabilidade, apesar do investimento avultado. “Digamos que é o sistema de ordenha mais evoluído do mundo. É tecnologia de ponta ao serviço da agricultura, da agricultura de precisão, digamos assim. O ‘robot’ consegue abranger vários pormenores e com isso, conseguimos ter melhor gestão e ser mais eficientes”, realça Paulo Barros, um dos proprietários desta vacaria na freguesia de Vilar de Nantes.

A maioria das vacas voluntariam-se. Dirigem-se ao ‘robot’ e aguardam a abertura da porta. Cada vaca está identificada e a máquina faz o cálculo da média que cada animal produz. Se entrar um animal que ainda não tenha leite suficiente, ele abre-lhe a porta e não perde tempo a fazer a ordenha. Tudo funciona ao pormenor, para que a qualidade e a higiene estejam asseguradas. A máquina tem capacidade para detetar anomalias no leite, rejeitando-o sempre que tenha problemas.

Aos 37 anos Paulo Barros é responsável, juntamente com o seu irmão Francisco, por esta vacaria com perto de três décadas de existência. Introduziram inovação, tecnologia e a marca ‘bem-estar animal’ ao negócio dos pais e atualmente são exemplo no setor agrícola.

ORDENHA ROBOTIZADA E GENÉTICA ASSEGURADA

Nos últimos anos, os irmãos Barros têm apostado na genética das vacas. Só em vacas de ordenha são, neste momento, cerca de 130, fora o resto do efetivo, onde se totaliza os vitelos, as vacas secas, vacas em período de repouso para iniciarem nova lactação, e as novilhas que são as vacas reprodutoras. “Fazemos uma grande aposta em genética. Adquirimos os melhores sémenes dos melhores touros americanos e holandeses e tentamos apostar no melhor porque se não for assim, também não conseguimos evoluir”, destaca.

Além do leite extraído nesta vacaria, o negócio também é feito através da venda de carne, no final da vida útil produtiva.

Temos que investir em genética para ter sempre recria a entrar, animais para repor os que vão envelhecendo, ou que apresentam problemas de fertilidade”, salienta Paulo Barros ao Jornal de Chaves.

O gosto pela agricultura está no sangue. Desde pequeno que trabalhou com os pais na vacaria. Diz ter nascido no meio das vacas e é assim que se sente realizado profissionalmente.

“Nasci nas vacas, nasci nisto, sempre gostei da agricultura. Comecei aqui de ‘pequenino’ a trabalhar com os meus pais. Gosto dos animais, e se não gostasse da agricultura, podia estar a fazer outra coisa perfeitamente, mas faço isto porque gosto. Trabalho com gosto”, adianta.

VACAS OUVEM MÚSICA, TÊM SERVIÇO DE ‘PEDICURE’ E NUTRICIONISTA NO DOMICÍLIO

Têm no bem-estar animal uma das principais preocupações. As vacas desta exploração escutam música, para ficarem mais tranquilas, têm quem lhes apare os cascos e a unhas e estão rodeadas de ventoinhas. A vacaria possui ainda um sistema de resfriamento, reduzindo o stress gerado pelo calor excessivo e uma escova para se coçarem. Temos ainda cuidado com as camas dos animais. A alimentação é também ela controlada por um nutricionista. “Os animais gostam da música, é uma forma de ficarem mais calmos e não estranharem certos ruídos. Temos também ventoinhas para o calor, a escova e o próprio ‘robot’ proporciona bem-estar animal. Trabalhamos esses parâmetros todos de forma, a proporcionar o melhor bem-estar animal para o qual estamos certificados”.

A ‘BIMBY’ DA VACAS É O SEGREDO PARA UMA ALIMENTAÇÃO RICA EM NUTRIENTES

A alimentação dos animais é a principal despesa desta empresa. As vacas da família Barros alimentam-se essencialmente, cerca de 70%, de forragens, produzidas na veiga de Chaves, silagem de milho e erva. Os restantes 30 % é ração controladas pelo nutricionista.

“Ele analisa aquilo que nós produzimos em casa e depois, aquilo que falta, os nutrientes e minerais em falta naquilo que produzimos em casa, ele vai complementar na ração, de forma a ter um bolo”, descreve.

“Temos uma máquina que mistura os ingredientes todos, a” ‘bimby’ das vacas”, diz em jeito de brincadeira, “de forma a terem uma alimentação equilibrada e constante o ano todo, sem haver oscilações. As vacas são animais de rotinas e não gostam de oscilações, nem de mudanças, gostam de uma coisa certa o ano todo”, afirma este jovem empresário.

Esta exploração familiar teve início há cerca de 30 anos com cinco vacas e foi crescendo ao longo dos anos, para 20, contando, atualmente, com perto de 300 animais. Por ano, esta vacaria consegue extrair um milhão e seiscentos mil litros de leite.

Com 60 hectares (ha) de terra, 40 ha são destinados à produção de milho e os restantes 20% a outras culturas. Trabalham aqui, quatro pessoas diariamente numa agricultura industrializada que ajuda a alimentar um país. Um negócio gerido por dois irmãos que viram na agropecuária uma forma de viver.

Texto: Sara Esteves

Fotos: Carlos Daniel Morais