Associação repudia servidão administrativa em nome da Savannah para aceder a terrenos privados

Em outubro, a Savannah Resources recorreu à figura de servidão administrativa temporária para acesso aos terrenos privados e baldios de Covas do Barroso, tendo sido concedido, conforme despacho publicado em Diário da República na sexta-feira, dia 6 de dezembro, pelo Gabinete da Secretária de Estado da Energia.

A associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, que está contra a concretização deste projeto na região, explica que “uma concessão desta natureza autoriza a Savannah Resources a aceder aos terrenos abrangidos e a levar a cabo trabalhos de prospeção durante o prazo de um ano”.

A mesma Associação repudia a constituição da servidão administrativa, consideram uma decisão “inaceitável”, e que lembra o Estado Novo. “É uma decisão que lembra o Regime Florestal do Estado Novo, que atacou o acesso das comunidades locais aos seus baldios através da interferência forçada do Estado Central na sua gestão. Entendemos por isso a presente situação como um retrocesso nos nossos direitos e um abandono das conquistas obtidas com o 25 de Abril: a devolução da gestão dos baldios às comunidades locais”, lê-se em nota enviada.

A associação UDCB refere ainda que, os trabalhos de prospeção “contrariam o investimento em trabalhos de recuperação, regeneração e ordenamento pós-incêndio em área baldia” e que os terrenos abrangidos são lameiros, o que a ocupação por parte da empresa “prejudica gravemente os proprietários, por comprometer a pastagem do gado e pelo risco de descaracterização dos lameiros ao ponto de estes perderem o seu estatuto de área de pastagem e assim, os inerentes subsídios de apoio por parte da União Europeia”.

A mesma organização critica ainda a Direcção-Geral de Energia e Geologia, “organismo estatal de quem se espera um papel de mediação imparcial e proteção de direitos”, e que, “mais uma vez posiciona-se como instituição servente de interesses privados, à revelia das preocupações da população local. Não se entende este favorecimento da empresa num projeto contestado e que não foi reconhecido como Projeto de Interesse Nacional”.

Na mesma nota enviada lê-se ainda: “Não consideramos este processo de forma isolada. Sabemos que estes trabalhos integram os requisitos do Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE) e que são por isso estratégicos para a empresa poder seguir avante com o seu plano de lavra. Contrariamente ao alegado pela empresa proponente, é inegável que o projeto não tem o aval da população local e que depende do atropelo constante da sua expressa vontade”.

A Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso adianta que vai continuar a trabalhar no sentido de garantir que as populações locais “vejam as suas preocupações reconhecidas e os seus direitos assegurados”, termina por dizer.

O projeto da Mina do Barroso obteve em maio de 2023 “luz verde” da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mas no início deste ano, o Ministério Público (MP) defendeu nulidade da Declaração de Impacto Ambiental da mina do Barroso em Boticas.

O MP foi notificado a pronunciar-se na sequência de uma ação judicial interposta pela Junta de Freguesia de Covas do Barroso, em Boticas, para anular a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) da mina do Barroso, atribuída ao projeto da empresa Savannah Resources, enviando um requerimento para o Tribunal Administrativo de Fiscal (TAF) de Mirandela onde corre o processo.

A mina do Barroso, cuja área de concessão prevista é de 593 hectares, tem uma duração estimada de 17 anos, dois para instalação, 12 para produção e três para recuperação paisagística de toda a área.

O projeto localiza-se em área classificada como Património Agrícola Mundial. A região do Barroso, que abrange os concelhos de Boticas e Montalegre, mereceu em abril de 2018 a certificação do Sistema Agro-Silvo-Pastoril do Barroso como SIPAM, atribuída pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O projeto de exploração de lítio e outros minerais a céu aberto é contestado pela população, autarcas locais e também por associações ambientais.

 

Sara Esteves

Foto: DR