O Presidente da República e
Primeiro-ministro visitaram juntos na segunda-feira, 30 de setembro, algumas
das áreas ardidas pelos incêndios de norte a sul do país. Depois de Baião,
Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro chegaram de helicóptero ao Complexo
Desportivo de Vila Pouca de Aguiar e dirigiram-se de autocarro até à aldeia de
Zimão, um dos locais mais afetados pelas chamas neste concelho, onde arderam
perto de 10 mil hectares de floresta (pinhal e mato) e há a registar um
prejuízo na ordem dos quatro milhões de euros.
Durante quatro dias, de 16 a 19
de setembro, as chamas consumiram no concelho aguiarense cinco casas, uma de
habitação permanente, uma de segunda habitação e três devolutas, três armazéns
agrícolas, um armazém industrial, depósitos de água, alimentos para animais e
várias culturas atingidas (soutos, avelaneiras, vinhas, olivais e outras).
O Primeiro-ministro garantiu que
o Governo está a utilizar todos os instrumentos possíveis com um caráter de
excecionalidade face à dimensão da tragédia. “Estamos aqui para contribuir
com o esforço do Governo em tudo aquilo que é necessário para recuperar sejam
as habitações, as explorações agrícolas, empresas e acreditar em Portugal.
Acreditar que temos futuro”.
Também o Presidente da República
frisou que é "extremamente importante" fazer o levantamento
rápido dos prejuízos e pediu para que não se esqueça o lado humano que marcou e
marca as pessoas afetadas pelos fogos. Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado
sobre se vai pressionar o Governo na matéria de apoios. "A presença do
Presidente da República quer dizer isso mesmo”, disse tendo na memória o
que se passou em 2017.
Na aldeia de Zimão, a comitiva
ouviu a população afetada. Franklim Alves viu destruída a casa onde vivia,
Ondina e Bruno Fernandes perderam 300 rolos de feno para alimentação das 40
vacas e 100 ovelhas e o espanhol Leopoldo Chousal, 65 anos, viu arder um
armazém, em Sabroso de Aguiar, onde tinha o escritório da empresa de importação
e exportação de flores e hortícolas, documentação, máquinas, empilhadoras,
arcas frigoríficas grandes e plantas. “É muito dinheiro foi tudo. Faz 24
anos que estou aqui. São mais de 400 mil euros e o seguro não cobre”, disse
Leopoldo Chousal.
“Toca-me um empresário
espanhol, ainda muito perturbado com a circunstância de ter visto a sua
empresa, o seu armazém arder e até foi uns dias a Espanha recuperar
psicologicamente e animicamente e está aqui hoje para dizer que quer continuar
e é isso que nós queremos”, salientou Montenegro, adiantando que existem já
100 milhões de euros disponíveis para iniciar o processo de recuperação, e um
acordo com a Comissão Europeia para a utilização até 500 milhões de euros de
fundos de coesão. “Temos um diploma que já foi aprovado e está em vigor
temos os instrumentos (…) que é possível utilizar com o carácter de
excecionalidade face à dimensão da tragédia”.
“Esta habitação que vimos,
totalmente destruída, terá um apoio a 100% de financiamento se o orçamento da
sua recuperação for até 150 mil euros e terá a partir daí, 85% de apoio, o que
quer dizer que Franklim terá a sua casa recuperada o mais depressa que for
possível e também tomamos decisões que tornam as regras de contratação pública
mais ágeis estamos efetivamente a fazer de tudo, com todo o empenho. Não estou
a dizer com isto que somos infalíveis, que o Governo de um dia para o outro vai
resolver tudo, mas com todo o empenho e instrumentos que temos à nossa
disposição. Sinceramente é muito duro para as pessoas que foram atingidas
ouvirem estas palavras porque sei que anseiam por ver isso no terreno, mas há
uma coisa que é verdade. Não estamos aqui depois de meio ano dos incêndios
acontecerem estamos ainda dentro da quinzena que marcou este infeliz episódio
que assolou o país”, recordou o primeiro-ministro.
A Presidente da Câmara Municipal,
Ana Rita Dias, recebeu a comitiva e assumiu que ficou garantido ajuda do estado
central ao concelho. “Foi com grande honra que os recebemos, no entanto
também ficou aqui o compromisso de ajudar o concelho de Vila Pouca de Aguiar e
as pessoas que foram afetadas a reaver, ou pelo menos, a restituir-se daquilo
que perderam. O município e eu estarei também na linha da frente para ajudar e
estar em sintonia com aqueles que além de ajudarem a combater as chamas
perderam coisas que eram suas. Sabemos que a partir de hoje podemos contar com
o estado central, que tudo fará para que as medidas sejam aplicadas no nosso
território”, disse a autarca.
Também o Presidente da Freguesia
de Telões, Luís Leal de Sousa, saudou a visita dos governantes e o contacto com
as pessoas afetadas. “Os pedidos foram muitos. Esta aldeia foi muito
afetada: casas, muitos terrenos agrícolas, mas as pessoas são resilientes e
vamos erguer e ver os sorrisos nas pessoas. Disseram-nos que vão recuperar e
que os apoios vêm sem burocracias”, disse o autarca de freguesia, onde
decorrem já peditórios para a reconstrução das casas afetadas.
Montenegro reitera que é
preciso fazer avaliação profunda do combate e gestão
“Vamos fazer uma avaliação
rigorosa e profunda sobre tudo aquilo que foi o combate, o sistema de
emergência e Proteção Civil e a sua gestão”, disse o Primeiro-ministro,
relembrando ter havido muitas ocorrências ao mesmo tempo no território. “Tivemos
que definir prioridades e foram definidas tendo como principal objetivo, em
primeiro lugar defender a vida das pessoas, em segundo lugar defender o
património das pessoas, e por isso, é que nesta aldeia onde estamos, tirando a
infelicidade das casas que arderam, uma habitada e a outra que é uma segunda
habitação, é notória a preocupação que houve de garantir que as casas eram
salvaguardadas”, frisou Luís Montenegro na visita à aldeia de Zimão, freguesia
de Telões.
O chefe do Governo disse
estranhar as 125 ignições numa noite e reforçou ainda o esforço grande na
investigação às causas dos incêndios. “E o que eu disse é que o Governo e o
país têm a obrigação moral de saber tudo aquilo que pode estar por trás disso e
mantenho. Eu vou fazer, como primeiro-ministro, um esforço grande para que haja
investigações que levam à deteção e condenação de todos os responsáveis pelos
incêndios”, afirmou.
Questionado sobre a falta de
meios terrestres e aéreos que a presidente da Câmara tem vindo a salientar,
Luís Montenegro disse ter falado na altura com a autarca local, recusando tirar
“conclusões precipitada”. O primeiro ministro revelou também que o Governo
vai “fazer uma avaliação rigorosa” (…) “com sentido de responsabilidade por
um lado e com sentido de lucidez e bom senso”. “Pode ter havido
falhas, eu não estou a dizer que não, e pode ter havido mão criminosa. Nós
vamos tentar perceber tudo, o que falhou, se falhou, na estrutura de combate,
nas decisões que foram tomadas, e vamos tentar perceber o alcance daquilo que
falhou antes, para não voltarmos a ter isso repetido”, frisou.
Neste périplo por Baião, Vila
Pouca de Aguiar e Sever do Vouga, algumas das áreas mais afetadas pelos
incêndios no norte e centro do país, Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro estiveram
acompanhados pelo Ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro
Almeida, da Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e do Secretário
de Estado da Proteção Civil, Paulo Ribeiro.
Em Vila Pouca de Aguiar, deflagraram quatro grandes incêndios, em pontos distintos do concelho, os fogos queimaram cerca de 20% da área do concelho e só não atingiram três das 14 freguesias do concelho.
Sara Esteves
Fotos: Joel Magalhães