Tinha 26 anos quando foi ordenado
Sacerdote a 05 de setembro de 1974 na igreja paroquial de Soutelo, no concelho
de Chaves. 50 anos depois o Padre José Banha recorda o momento que viveu na
terra que o viu nascer.
“Foi uma felicidade muito
grande ver-me rodeado dos meus amigos, familiares, tanta gente que enfim,
certamente contribuíram para que eu crescesse na fé e na vida cristã e viesse a
ser Padre. Perante o chamamento que eu sentia que o Senhor me fazia, eu não
podia dizer que não, até porque, foi num ano muito conturbado, em 1974, ano da
Revolução em que também houve muitas desistências dos seminaristas mesmo do meu
curso”.
Na véspera da sua Ordenação, um
conterrâneo ter-lhe-á questionado o porquê de querer ser Padre. “Eram tempos
difíceis e os Padres também corriam certos riscos e inclusivamente, eu podia
ganhar a vida melhor, em termos materiais, digamos assim, seguindo outra
profissão, mas eu assim de repente respondi a essa pessoa que me interpelou
isto de ser Padre é acima de tudo uma questão de fé e de amor, e só é capaz de
entender esta decisão, só à luz da fé e à luz do amor de Deus”, revelou o
Padre José Banha com 76 anos.
Ao Canal Alto Tâmega, e no dia em
que se aguardava pela comemoração dos 50 anos de vida Sacerdotal, o Padre
‘Banha’, como habitualmente é conhecido, admitiu que o desejo de ser Padre o
acompanhou desde muito novo.
“Este desejo de ser Padre
existiu em mim desde ‘pequenino’. Foram os meus pais que despertaram em mim,
não só me geraram para a vida, para a fé e para a vida cristã, desde muito
pequeno como também, despertaram este desejo de ser Padre”.
NUNCA PENSEI ABANDONAR O
MINISTÉRIO
“Nunca me passou pela cabeça
abandonar o Ministério e sempre em qualquer lugar em que estive senti-me um
Padre feliz e de todos para todos, quer quando estive como profético no
Seminário em Vila Real, de seminaristas e não seminaristas, porque nessa altura,
o Seminário admitia também a frequentar os estudos, não seminaristas cujos pais
optavam por colocar os filhos a estudar no seminário, sem serem seminaristas.
Foi a eles que eu dediquei digamos as premissas da minha vida sacerdotal, que
quando estive em Paris como Padre estudante e ao mesmo tempo, Capelão de uma
comunidade portuguesa onde havia 16 mil portugueses”.
“Foi uma comunidade muito
viva. Aí senti-me por um lado realizado porque na Universidade tinha colegas de
102 países. Era um universo cultural muito diversificado e isso era
enriquecedor. Por outro lado, como Padre Capelão da comunidade portuguesa,
sentia-me assistente social. Foi na altura da descolonização, em que vinham
muitas pessoas do Ultramar, jovens inclusivamente, que me batiam à porta para
os ajudar a encontrar trabalho e alojamento sem saber falar e eu acompanhava-os
aos serviços sociais para fazerem os documentos e estarem legalizados em
França. Um trabalho de acolhimento que me ajudou a crescer e a conhecer a
realidade da emigração”, salientou.
Foi encaminhado para o Seminário
de Vila Real em 1959 e a partir daí admite que foi descobrindo, pouco a pouco,
e aprofundado a sua vocação e o caminho que o Senhor lhe indicava. Frequentou o
Seminário Maior do Porto desde 1968. Foi Prefeito e Professor no Seminário de
Vila Real e Pároco de Alijó e Sanfins do Douro.
“O Senhor Bispo perguntou-me
se queria ir para lá e eu disse que nunca tinha estado em Alijó nem conhecia a
região, mas se vê que precisa de mim eu estou disponível”, disse o Padre
José Banha, na altura e não se arrepende.
“No fundo foi um trabalho
excelente que a gente fez sobretudo com os jovens. Tanto os jovens que andavam
metidos na droga, longe da igreja. Foi difícil, mas consegui fundar um
Agrupamento de Escuteiros que teve mais de 100 escuteiros. Quando saí de lá, o
Agrupamento estava com uma grande vitalidade. Fundou-se a catequese, a
liturgia, criamos as equipas de casais de Nossa Senhora que neste momento, são
cerca de cinco equipas”.
Após sete anos, diz que o Bispo o
chamou para que fosse estudar para o estrangeiro. “Disse-me que a Diocese já
tinha tudo preparado e pagava. Propôs-me três lugares: Universidade de Comillas
‘fazer’ Teologia Moral; Universidade de Salamanca para Teologia da Família ou
voltar para Paris, mas ao mesmo tempo, punha-se a hipótese de criar uma
paróquia em Chaves porque a cidade estava a estender-se muito sobretudo, nesta
parte norte da cidade e o senhor Bispo queria muito, e porque também foi muito
solicitado pelas pessoas, queria criar aqui uma nova paróquia. Ele disse que ia
dois anos para fora estudar e, entretanto, voltava. Acabei, e por causa dos
meus pais que já tinham uma idade, por decidir ficar por aqui e ajudar a criar
uma paróquia do zero sem igreja sem estruturas e por isso, acabei por ficar
aqui. Já estou aqui há 37 anos”.
A LUTA E A DEMORA NA
CONSTRUÇÃO DA IGREJA
“Tinham-me dito que já havia
terreno para a igreja, mas cheguei cá e não havia terreno nenhum. Estava
falado, mas não tinha condições nenhumas. Andei 10 anos a lutar para conseguir
arranjar o terreno para a construção da igreja. Depois abriu-se o concurso para
execução do projeto e lançou-se o concurso e foi selecionado um arquiteto. O
projeto estava pronto em 1995 eu cheguei em 1988. Depois o processo de
candidatura de comparticipação do Estado foi também um trabalho difícil. Em
2001 já tínhamos a aprovação da DGAL [Direção-Geral das Autarquias Locais] e
veio cá o Secretário de Estado de então, das autarquias locais e assinamos o
primeiro contrato. Houve uma missa campal e os representantes da comissão de
coordenação regional do Norte e depois avançamos com os outros projetos de
especialidade. Começou-se a igreja em 2004 e entrou em funcionamento em 2008.
Isto tudo não foi fácil e foram tempos muitos difíceis”.
“VIVEMOS NUMA SOCIEDADE
BASTANTE DESCRISTIANIZADA, SECULARIZADA DE INDIFERENTISMO RELIGIOSO”
“Deus continua a chamar.
Talvez as pessoas não estejam tão recetivas. Vivemos num modo em que estamos
atordoados por tantas vozes e por vezes, temos dificuldade em escutar e servir
a voz do Senhor. Antes íamos para o Seminário com 10/11 anos e hoje, a partir
de grupos de jovens e escuteiros, e até de famílias profundamente cristãs, que
ainda há algumas, é que se decidem. Este ano tivemos dois Padres novos que se
ordenaram. É verdade que tem diminuído as vocações sacerdotais, religiosas e
até como cristão leigos. Antes havia talvez mais pessoas empenhadas na pastoral
da igreja e na animação das comunidades e hoje são menos”.
“Tinha nas paróquias catequese
até ao 10º ano agora há um, dois anos, a não ser na cidade que temos 10
catecismos. É preocupante, mas não podemos desanimar. A esperança é a última a
morrer. Espero que esta celebração seja
sobretudo uma manifestação de igreja e uma interpelação para os mais novos que
os faça refletir para se darem aos outros”, salientou o Padre José Banha
que na hora de refletir sobre dois problemas que mudaria na sociedade fala nas
preocupações com os problemas sociais, a pobreza e injustiças, e a indiferença
social.
Texto: Sara Esteves
Fotos: Helena Freitas
Foto capa: DR
Nasceu em Soutelo – Chaves, a
09/04/1948, onde foi batizado a 17/04/1948 e crismado a 09/11/1957.
Frequentou o Seminário de Vila
Real (desde 1959-1960) e o Seminário Maior do Porto (desde 1968) Foi ordenado
Diácono, a 16/06/1974, na Sé Catedral de Vila Real, e Sacerdote, a 05/09/1974,
na igreja paroquial de Soutelo – Chaves, onde celebrou a “Missa Nova” a
08/09/1974.
Foi Prefeito e Professor no
Seminário de Vila Real (1973-1976).
Padre Estudante no Instituto
Católico de Paris (onde concluiu o Mestrado em Teologia Pastoral e o Ciclo de
Estudos de Habilitação ao Doutoramento em Teologia) e Capelão da Comunidade
Portuguesa de Paris XVI (1976-1979).
Pároco de Alijó e Sanfins do
Douro (1979-1986).
Indigitado como Padre Responsável
da Comunidade de Santa Cruz-Trindade, a título de Vicariato Paroquial (1986),
em vista da criação canónica da nova Paróquia de Chaves, o que aconteceu por
Decreto Episcopal de 08/12/1993, dedicada à Sagrada Família, pelo qual foi
também nomeado seu 1.º Pároco. Como tal, foi o principal obreiro da construção
da igreja paroquial da Sagrada Família (2004-2008), depois de ter conseguido e
legalizado o respetivo terreno e conduzido o processo da execução do projeto e
o da candidatura à comparticipação financeira pela DGAL.
Pároco de Outeiro Seco (1988), e
de Soutelo (1990). Administrador Paroquial de Santa Maria Maior de Chaves
(1989).
Foi também Professor de Educação
Moral e Religiosa Católica e Professor de Didática no Curso de Professores (4.º
ano de licenciatura) da UTAD (1986 – 2007). E responsável por ações de formação
com os professores do EB, na área da EMRC, a nível regional.
Foi membro do Conselho
Presbiteral, em vários mandatos, membro do Colégio Diocesano de Consultores
(por nomeação do sr. D. António Cardoso Cunha e do sr. D. Joaquim Gonçalves),
Diretor da Comissão Diocesana de Liturgia, Delegado no Secretariado Diocesano
da Educação Cristã. E assistente diocesano das Equipas de Casais de Nossa
Senhora (desde 1989).
Colaborou ainda com o
Secretariado Nacional da Educação Cristã na elaboração do novo projeto de 10
anos de catequese para a infância e adolescência; e, posteriormente, integrou uma
equipa de revisão dos catecismos.
Colaborou igualmente, durante
alguns anos, com o Secretariado Nacional das Migrações.
Em 11/06/2010, o Papa Bento XVI
nomeou-o Capelão de Sua Santidade, atribuindo-lhe o título de “Monsenhor”.