“Com 24 anos, poder representar a seleção portuguesa foi o ponto mais alto até ao momento, uma sensação extraordinária.”

Davide, natural de Beça, no concelho de Boticas, numa altura em que não havia camadas jovens na modalidade de futsal, optou pelo futebol e foi ao serviço do GD Boticas que cumpriu grande parte da sua formação. Em 2005, Davide deixa o futebol para ingressar no futsal sénior do GD Boticas, sob comando do técnico de António Marinho.

Ao longo da sua carreira passou por clubes como GD Boticas, SC Braga, Ourense FS, AD Fundão/Hotel Alambique, Kazma SC, ASD Luparense, Gyori ETO, Al-Yarmouk, Real Rieti, Feldi Eboli, 360GG, Monastir Kosmoto e Manfredonia C5.

 

 

Da rua para as quadras

 

“Como todos os miúdos na altura, jogava à bola na rua. Tive oportunidade de jogar no GD Boticas, no futebol, nas camadas jovens, entretanto, em 2005 começo a fazer a pré-época no GD Chaves e por coisas que acontecem na vida, foi impossível ficar em Chaves a treinar, embora estivesse a estudar. Deixei o futebol e pela mão do mister António Marinho dá-se a minha entrada, de novo, no GD Boticas, neste caso no futsal e aí começa tudo.”

 

 

Chamada à Seleção Nacional, pela primeira vez

 

Em 2009, regressa a Boticas, oriundo de Espanha, onde esteve dois anos ao serviço do Ourense FS. Em 2011, é chamado pela primeira vez à Seleção Nacional, Davide explica como tudo aconteceu: “Acabam os dois anos em Espanha, volto para Boticas, que, entretanto, tinha garantido a subida à primeira divisão, pela mão do presidente Paulo Aleixo. Depois de uma época muito boa que fizemos, no final, há uma convocatória da seleção e o Joel Queiroz, que era atleta do SL Benfica, tinha-se lesionado naquele fim-de- semana, não pode dar o seu contributo, o selecionador Jorge Braz, entendeu que devia de ser eu a fazer a primeira internacionalização, aqui pertinho de casa, em Vila Pouca. Com 24 anos poder representar a seleção portuguesa foi o ponto mais alto até ao momento, uma sensação extraordinária. (…) Estreei-me em Trás-os-Montes, a jogar pela equipa que me formou, pela equipa da terra, um misto de emoções, todas positivas.”.

 

Jogar ao lado do melhor jogador de futsal português de todos os tempos e ser treinado pelo transmontano, cinco vezes melhor selecionador do mundo, Jorge Braz

 

Durante o seu estágio na seleção nacional, Davide Moura teve oportunidade de treinar com os melhores jogadores portugueses, entre eles, Ricardinho. “Tive a felicidade de poder jogar com ele na seleção e contra ele a nível de clubes e obviamente é um fora de série, de outra galáxia.”, afirmou Davide Moura. Para além de contar com craques, enquanto colegas, o jogador botiquense foi orientado por Jorge Braz, vencedor do prémio de melhor selecionador do mundo por cinco vezes consecutivas. Davide Moura explica a sensação: “A verdade é que quando nós entramos neste contexto de treino, no que diz respeito à seleção, há muito pouco tempo para se trabalhar. Tenho muito boa relação com o Jorge, mas é pouco tempo. Nós fazíamos algumas concentrações durante o ano, em que não havia jogos e fazíamos cinco unidades de treino, quando havia jogos treinávamos três vezes e jogávamos duas. Não há tempo para se ver o que é trabalhar com o Jorge Braz, se houvesse um contexto de Campeonato de Mundo, como há agora, em que se está junto em preparação quatro ou cinco semanas, aí sim, eu podia dar uma opinião do que era trabalhar com o Jorge. Naqueles dias que estávamos juntos, não há nada a dizer, a competência dele estava lá, o que aconteceu foi que as taças vieram para cá, vieram para Portugal”.

 

Três épocas de alto nível ao serviço do AD Fundão/ Hotel Alambique

 

Depois do regresso a Boticas e da chamada à seleção nacional, Davide Moura transferiu-se para o Fundão, onde esteve por três temporadas. O próprio fez uma reflexão sobre esta jornada: “Foram três anos muito bons, quer a nível desportivo, quer a nível pessoal, passei muito bons momentos, dentro e fora de campo, no Fundão. Na terceira época, que começamos o campeonato de uma maneira muito má, chegamos a dezembro, estávamos, como se costuma dizer, com a corda na garganta e de repente há um ‘volte-face’ dentro da equipa, sem haver qualquer tipo de reforço ou alteração de regras, começamos a ganhar, a ganhar, criou-se uma espiral positiva dentro do balneário. Nos oitavos-de-final da taça, quando entram as equipas da primeira divisão, o sorteio dita-nos o Sporting CP, em Loures, fomos a Lisboa, ganhámos e eliminámos o Sporting, nos penalties. Na liga, em casa, conseguimos empatar com o Benfica, conseguimos empatar com o Sporting, criou-se um alto astral na nossa equipa, que foi um avião, que quando está a descolar não há forma de o parar.”.

 

Adaptação ao médio oriente

 

Com passagens em Portugal e em Espanha, Davide Moura, na temporada 2014/2015, aceita um novo desafio e ruma ao Koweit, para representar o Kazma SC. A viver num país completamente diferente de Portugal, Davide explicou como foi a sua adaptação, “(…) mudou tudo, foi um choque tremendo, é verdade que já tinha passado muito tempo fora de casa, ou seja, saí de Boticas fui para Braga, depois para Espanha, entretanto para o Fundão, mas depois fui para o Médio Oriente, onde há um choque cultural, um choque a nível desportivo, porque vinha de uma estrutura semiprofissional do Fundão, a jogar e a treinar a nível muito alto e depois o Koweit mostra-me uma perspetiva diferente do que é a cultura árabe, muçulmana, um país construído no meio do deserto, tenho que obrigatoriamente aprender a falar inglês, porque não sabia praticamente nada, tinha que aprender para me comunicar com alguém. Fui muito bem recebido pela parte dos koweitianos, com muita desorganização na liga, mas que no final do ano, conseguimos o título inédito, naquele ano, para o Kazma, um ano que deu continuidade aquilo que estava a fazer, a jogar a um nível alto, a competir muito e bem e a continuar a somar títulos, porque tinha ganho a Taça de Portugal, no Fundão e mais um campeonato no Koweit.”

 

Do Koweit para Itália, para jogar no ASD Luparense

 

Apenas um ano depois no médio oriente, Davide Moura regressa à Europa, mas desta vez, para viver num país diferente, a Itália, no entanto, tudo aconteceu por um motivo inusitado: “As circunstâncias da vida dão-nos muitas surpresas, no Koweit eu já tinha renovado contrato, porque ganhámos o campeonato, tínhamos uma excelente equipa, estávamos a formar aquilo que foi a potencial do futsal do Koweit nos anos seguintes. Entretanto, o meu representante, que tinha, no ano anterior, um jogador lá, que foi mandado embora por causa de um ligamento cruzado, lesionou-se no ligamento e tinha que ser operado, o clube mandou-o embora, entretanto o meu representante denunciou o caso à FIFA e cinco dias antes de eu viajar em agosto, o clube cancela as viagens e cancela o meu contrato, o contrato do treinador e do treinador adjunto, ou seja, em cinco dias, com as malas todas preparadas para voltar para o Koweit, fomos riscados do clube. No final de setembro, os plantéis estão fechados, eu não consigo arranjar equipa, porque os campeonatos estão praticamente a começar e ficamos os três desempregados. Em outubro, a Luparense, o clube histórico, o clube mais importante até à data do campeonato italiano, estava a passar por dificuldades desportivas, contrata o mister Fuentes, que estava comigo no Koweit e uma semana depois, sabendo da minha disponibilidade, porque era um jogador livre, decide levar-me com ele, situação que aceitei prontamente.”

 

Nova época, novo país, nova experiência, desta vez, na Hungria

 

Em semelhança ao que fez no Médio Oriente, Davide Moura esteve apenas um ano em Itália e na temporada 2016/2017 rumou à Hungria, para representar o maior vencedor do campeonato húngaro, Gyori ETO. “Uma experiência numa cidade e num país muito boa. A nível profissional, para além de estar na melhor equipa com muita diferença, parecia que estava no Sporting, em Portugal, porque nós também jogávamos de verde e ali éramos muito melhores que as outras equipas, tínhamos uma estrutura forte, muitos jogadores internacionais por vários países da Europa. (…) Correspondemos à expectativa, ganhamos a taça e o campeonato, que era o nosso dever e obrigação, era assim que era exigido dentro do clube e conseguimos chegar à Elite Round da Liga dos Campeões.”

 

De campeão húngaro ao retorno ao Koweit

 

Foi campeão húngaro, mas novamente, devido a problemas administrativos foi obrigado a trocar de clube, o que ditou o seu regresso ao Koweit, desta vez para representar o Al-Yarmouk. “Na Hungria, o clube tinha condições muito boas para poder ombrear com as melhores equipas europeias, mas o presidente acabou por ser apanhado em alguns casos de corrupção e sair era ponto assente. Torna a tocar o telefone, com uma proposta de outro clube no Koweit, pela mão do ex-selecionador do Koweit, o espanhol, Luís Fonseca. Naquele ano a Federação Koweitiana estava suspensa pela FIFA, no futebol, futsal e futebol de praia, só podia jogar apenas um estrangeiro por equipa e o Fonseca, apreciou o primeiro ano que estive no Koweit, ligou-me e eu prontamente acedi, porque a nível financeiro era vantajoso.”, reiterou Davide.

 

Nova saída do Koweit e regresso à Itália

“(…) Na segunda época no Al-Yarmouk, aparece um treinador, Eduardo Lentz, conhecido como Duda, fizemos mais uma época lá, eu tinha tudo certo para renovar e ficar o terceiro ano no Koweit, quando o Duda assina em Rieti, por uma das equipas emergentes, que estava a investir muito forte para tentar ganhar o primeiro campeonato. O Duda sabia que eu estava para renovar, mas ainda não tinha assinado e levou-me para Rieti. Eu aceitei prontamente, porque as oportunidades para trabalhar com treinadores assim são poucas.”.

 

Subida de divisão no último ano de carreira e transição para treinador

 

“Quando subimos de divisão, eu já tinha decidido que não jogaria a primeira divisão, questões mais do que tudo físicas. Este ano o campeonato vai começar muito mais tarde, porque se joga o mundial, o campeonato da Itália vai começar dia 19 de outubro e acaba na mesma data, são 30 jogos, vão haver muitos jogos a meio da semana, é habitual na Itália fazerem jornada dupla na semana e expus ao treinador, que para ter bom rendimento e para poder ajudar o Manfredonia C5, se calhar tinha que jogar só um jogo por semana e nessa situação, era melhor eles tentarem outro estrangeiro, que pudesse aportar outro nível à equipa, por isso, a pensar no clube, despedi-me, disse-lhes que não continuava. (…) Quando disse ao treinador que não ia continuar ele colocou-me a possibilidade de continuar como treinador-adjunto dele, despertou em mim uma curiosidade grande, faltou depois chegar a acordo com o clube, que estava com dificuldades. (…) Quando conseguiram todas as condições financeiras, fizeram-me uma proposta para eu continuar, porque, entretanto, ainda não tinha decidido deixar de jogar. Depois de me fazerem a proposta com as condições todas que estavam pelo meio, foi claro para mim, colocar um ponto final na carreira de [jogador]”.

 

Texto: Diogo Batista

Foto: Márcio Pires