Comerciantes e empresários esperam boas vendas nos “Santos”

A menos de duas semanas, alguns flavienses já aguardam a tradicional Feira dos Santos em Chaves. Uma festa transmontana, celebrada assim que termina outubro e inicia o mês de novembro, atrai milhares de pessoas à cidade. Os primeiros comerciantes a chegar, a esta festa de rua, são também os primeiros a fazer algum negócio. Fernanda Dias traz as farturas da Trofa a Chaves há 30 anos. “Eu gosto muito de vir a Chaves, aqui o pessoal é muito acolhedor, muito querido, são boas pessoas”, revela esta comerciante com uma roulote de farturas e churros, junto à rotunda do Monumento. O negócio destes comerciantes itinerantes depende muito das condições climatéricas e para a venda da fartura o frio é bom amigo. “Este ano está assim um bocadinho para o ‘fraquito’ porque está muito calor. O calor é muito. Nunca tivemos assim tanto calor em Chaves. À noite vai-se fazendo alguma coisa mas o negócio está um bocadinho fraco e um pouco diferente dos outros anos”, afirmou a ‘Nanda’ das Farturas.

Vinda da festa de Cabeceiras de Basto para os Santos em Chaves, Fernanda Dias traz com ela o marido e um funcionário. Diz ser suficiente para aquela que é para esta família a última “grande feira do ano”. “Este verão correu bastante bem. As festas que fiz foi bastante ‘jeitoso’, vamos lá ver agora. Esta [feira] aqui também a bem dizer é a última. Se não correu bem durante o ano, quem está à espera de juntar dinheiro nesta altura é difícil”, admitiu.

Poucos metros ao lado, o Jornal de Chaves falou também com Bárbara Ferreira, sobrinha da proprietária da Churraria Alexandre e Matilde. Enquanto confeciona churros e farturas para uma cliente, esta jovem fala-nos das expectativas que tem para a edição 2023 dos “Santos” de Chaves. O negócio vai indo. Umas vezes bem, outras vezes mal mas estamos com muitas expectativas para a feira que seja tão boa como no ano passado”, frisou.

O cheiro das farturas atraiu Carla Martins que veio com a missão de comprar farturas e churros para os idosos do lar onde trabalha. “Estou aqui a levar churros e farturas para o lanche dos meus velhinhos. É um miminho. Costumo levá-los aos Santos, dão uma ‘voltinha’, mas no período de Santos venho cá muitas vezes buscar farturas. Os velhotes não podem vir e nós levamos. Eles já sentem saudades. Saí e disse-lhes que vinha buscar churros e ficaram todos contentes. Não custa nada dar-lhes um miminho”, revelou Carla Martins da residencial Nova Geração em Chaves.

Enquanto flaviense não esconde o gosto que tem por este evento. “Gosto muito da feira é sempre uma altura que gostamos de sair, comer um churro, uma fartura, tomar um café é uma maneira de passar o tempo depois de jantar”, relembra.

A RESTAURAÇÃO GANHA COM O EVENTO

A considerada “maior” feira de rua do país, que atrai milhares de pessoas, enche as diferentes artérias da cidade onde também a restauração beneficia com o evento. Armindo Alves é proprietário de um restaurante junto à rotunda do monumento e admite que no período da feira a afluência é maior. “A Feira dos Santos é sempre um evento muito emblemático para a nossa região em que traz muitos visitantes, em que toda a gente tem oportunidade de mostrar os produtos locais e regionais. Para a restauração, é sempre uma afluência fora do normal. Nestes dias praticamente estamos sempre lotados desde que se abre até se fecha” [o estabelecimento].

A afluência também se regista no espaço de divertimentos onde os mais novos já se divertem. Francisco Costa tem 25 anos e diz que esta é “uma boa feira” que “costuma estar cá, uma vez por ano”. De Boticas, Afonso Carvalhais veio com os amigos divertir-se nos matrecos e nos carrinhos de choque. “Tenho vindo todos os anos. Venho cá, nas tardes livres depois da escola e gosto muito”. Para o amigo, Duarte Fernandes é altura para rever amigos. “É divertido. Dá para nos entretermos aqui todos é o momento para encontrar amigos de outras escolas”.

Para a maioria dos comerciantes as expectativas para a edição deste ano são “boas” se o São Pedro ajudar. Se o São Pedro ajudar, as expectativas são boas. Tem corrido bem sempre que venho cá. Não falho a vinda a Chaves. Se não vier aos Santos, já não há santos. Sou a alegria da feira”, salientou Luís Silva. Este empresário dos divertimentos admite que vem mais cedo para “criar ambiente”. É importante vir mais cedo para chegar aos dias principais e o pessoal, saber que estamos cá”, afirmou recordando os tempos “difíceis” que viveram com a pandemia da Covid-19. “Foram dois anos difíceis mas com a ‘graça de deus’ cá estamos”, terminou por dizer.

FEIRA DOS SANTOS: UM POLVO COM MUITOS TENTÁCULOS

Realizada em Chaves desde tempos que se vão perdendo na memória, a “Feira dos Santos” constitui para os habitantes do Alto Tâmega, e particularmente para os flavienses, o ex-libris festivo da cidade de Chaves e desta região transmontana.

Os “Santos”, como popularmente usa chamar-se a este acontecimento festivo, vão-se repetindo anualmente quando outubro expira e novembro começa. Por uns dias, a Feira dos Santos transforma o espaço público em que se realiza e a realidade do local. O que antes era um espaço de passagem, ruas e largos com os seus respetivos moradores e comerciantes torna-se num espaço de convivência, repleto de sons, cheiros e movimentos. A cidade muda, agita-se, veste roupagens de festa, enchem-se as ruas de multidões, e o comércio e a diversão tomam conta da cidade.

A Feira dos Santos é realizada pela Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT) e pela Câmara Municipal de Chaves. Nos últimos anos, e segundo a ACISAT, a feira “tem vindo a mostrar-se mais apetecida pelos expositores e mais participada por visitantes nacionais e estrangeiros, com especial destaque para os nossos vizinhos do Norte da Galiza. Chaves franqueia nesses dias as suas portas a mais de uma centena de milhares de visitantes, demonstrando, como aliás em outras épocas do ano, a sua característica e tão propalada hospitalidade”.

Sem esquecer o seu cariz marcadamente popular e festivo, a Feira dos Santos assume-se essencialmente como um certame “multissectorial”, com representação de uma vasta gama de atividades económicas. O vestuário, o calçado, o artesanato nacional e internacional, as antiguidades, os produtos agrícolas, a gastronomia e um vasto leque de diversões, constituem algumas das atividades que tradicionalmente estão representadas neste evento anual.

A Feira dos Santos não é só uma Feira de atividades. Mantendo uma tradição remota, a organização tem colocado uma forte tónica nas atividades lúdicas. O concurso do melhor gado, a tradicional “chega de bois”, a atuação de grupos musicais e bandas e o arraial popular, são algumas das atividades que, a par de outras, “têm garantido o êxito desta importante Feira Anual de Todos os Santos”. A gastronomia é outra faceta muito atrativa, com destaque para a Feira do Polvo, que decorre em paralelo com a tradicional Feira do Gado. A Feira fica completa com a participação do Comércio Local, que nestes dias “sai à rua” associando-se ao megamercado que se instala nas artérias da cidade.

O evento sai à rua de 29 de outubro a 1 de novembro.