Especialista em poluição atmosférica critica Estudo de Impacte Ambiental da mina do Barroso

A Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), através de um comunicado, refere que o também professor emérito da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, apontou falhas e omissões graves na avaliação que deu origem à Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em maio de 2023.

Steyn destacou a caracterização “inadequada da qualidade do ar na área de implementação do projeto e uma modelação de dispersão de partículas nocivas pouco clara e incapaz de prever os impactos negativos do projeto”, lê-se na nota enviada pela UDCB, associação que está contra o projeto da mina do Barroso.

O especialista em poluição atmosférica terá apontado ainda para “contradições nas observações feitas pela Comissão de Avaliação, ou seja, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) face à sua avaliação positiva”.

Com base num relatório independente que terá sido solicitado pela UDCB, o especialista refere que a caracterização da qualidade do ar utilizada nas duas versões do EIA data de 2018 “foi realizada por uma consultora sem experiência aparente em monitorização ambiental e de qualidade do ar”. Steyn destaca também que a monitorização de partículas PM10 “realizou-se apenas numa única localização e durante um período de 14 dias, uma recolha espacial e temporalmente limitada, que desconsidera a topografia envolvente e as variações anuais das condições meteorológicas. Os dados apresentados são, portanto, irrelevantes para caracterizar a situação de referência e inferir os impactos negativos do projeto”.

Quanto à consultora contratada pela Savannah Resources, o professor afirmou que “não foram realizados estudos sobre a concentração de metais”, como estanho, tungsténio (volfrâmio), nióbio e tântalo no minério a ser extraído, “que apresentam risco de toxicidade para populações humanas, plantas e animais”.

Explica ainda que o modelo de dispersão de partículas PM10, resultante das atividades mineiras propostas, “não é especificado”, e os resultados apresentados “desconsideram os efeitos da precipitação e os campos de dispersão de PM10 são demasiado planos para a topografia e regime de ventos existente no local, o que torna a modelação irrealista”.

Já sobre o parecer favorável da CCDR-N, Steyn considerou que as conclusões relativamente à solidez e adequação do estudo “contradizem a evidência disponível, sendo por isso insustentáveis”. “A contradição é agravada pelo facto de a CCDR-Norte apontar para a necessidade de maior precisão na monitorização da qualidade do ar e de reconhecer que o estudo realizado não tomou em conta a duração legalmente estabelecida para as campanhas de monitorização, o que impede uma comparação com os padrões estabelecidos para medir a qualidade do ar”, lê-se no mesmo comunicado.

Foi destacado ainda o facto de a DIA “recomendar ampliar o tempo e o número de estações de monitorização da qualidade do ar”, mas considera, no entanto, que “o período proposto (52 dias) carece de argumentação que o sustente, afirmando que nada justifica um período inferior ao legal, a saber: um ano de monitorização da qualidade do ar e das condições meteorológicas locais”.

“Na DIA, a APA também reconhece que o estudo não apresentou os resultados da modelação de dispersão de partículas PM10 e que as medidas de mitigação propostas são insuficientes para precautelar os riscos de exposição a contaminantes. Posto isto, o especialista considera surpreendente e prematura a declaração favorável por parte das entidades públicas responsáveis”.

Catarina Alves, da associação UDCB, referiu que “cada vez que lemos um novo parecer independente saímos mais preocupados do que antes. Como é possível dar um parecer favorável a um estudo que não cumpre sequer padrões mínimos de monitorização da qualidade atual do ar em Covas do Barroso? Como é que, perante esta e outras evidências, o Governo ainda tem coragem para afirmar que estão a ser aplicados os mais exigentes padrões de regulação e fiscalização? A avaliação ambiental feita à Mina do Barroso mancha a credibilidade das instituições públicas e, acima de tudo, coloca a nossa vida em risco. E nós não vamos aceitar isso de braços cruzados. Precisamos de mais vozes responsáveis a exigir a anulação imediata da DIA da Mina do Barroso”, diz citada em comunicado.

Em 2023, também Steven Emerman já tinha alertado para os perigos associados à infraestrutura de armazenamento de rejeitos proposta pela promotora do projeto.

 

Sara Esteves

Foto: DR