Demonstração de Mondioring apresenta a arte do treino canino em Vila Pouca de Aguiar

António Ferreira tem 45 anos, é de Vila Pouca de Aguiar, e é o “número dois” da associação sem fins lucrativos No Stress Treino Canino, com mais de 20 anos de experiência, que tem atividade no concelho aguiarense há cinco anos, onde a organização de provas e eventos fazem parte das suas funções.

A sua ligação ao mundo canino já vem de longe, uma vez que enveredou pela tropa precisamente para a área da Cinotécnica, que se trata de um conjunto de estudos, conhecimentos e técnicas ligados à criação e treino de cães para tarefas específicas civis ou militares. “Eu fui para militar por causa dos cães, tirei o meu primeiro curso de Cinotécnica Militar em 2000 e a partir daí nunca mais parei”.

Com o desenvolvimento de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, António Ferreira chega ao Mondioring, considerado um desporto canino, e que se trata de uma modalidade que juntou vários “Rings”. “Existe o Ring Francês, o Belga, o Holandês e a modalidade mundial formou-se através de um grupo europeu de pessoas que se juntou e tirou bocadinho de cada Ring de cada país e fizeram o Mondioring, ou seja, é o Ring para todo o mundo”. António Ferreira relembra que é uma modalidade que “já tem muitos anos” e obedece a regras, uma vez que tem uma federação por trás, a Federação Cinotécnica (FCI), pelo que são “obrigados a seguir aquele regulamento europeu e mundial”.

As demonstrações de Mondioring, como a que aconteceu em Vila Pouca de Aguiar, têm como objetivo divulgar esta modalidade de desporto canino e as suas vantagens, uma vez que ainda é pouco falada ou desconhecida. A No Stress Treino Canino pretende ainda que “cada vez haja mais interesse pelo cão e que lhe deem outro tipo de atenção, e não o que geralmente existe na nossa terra, que é o cão comer os restos e estar amarrado à corrente, que apesar de já não haver muito, ainda acontece”. Afirma que pode haver outro tipo de atividades e divertimentos enriquecedores tanto para os seus donos, como para o cão, e fala na associação da No Stress ao Movimento K-9 que proporciona treino para cães civis.

 

Treino de cães para a vida civil e para a vida policial e militar

O desporto canino foi pensado para exercícios que se enquadrem na vida civil, como “situações em que o cão tenha de saltar um muro, ou seja capaz de saltar um lago, que é feito nos saltos. A obediência é pensada para situações em que o cão possa ser conduzido ou estar com o tratador sem trela ou com trela. Há exercícios com distrações em que o cão tem de ficar quieto durante um minuto e que posteriormente nos permite ir tomar um café ao quiosque ou ir comprar fruta e voltar”.

Este tipo de treinos pode também ser uma mais-valia no caso concreto dos cães de guarda de território. “Nestes exercícios, nós temos a procura do fugitivo, ou seja, a procura de alguém que esteja num território que o cão não está habituado a ter, ou não reconhece. É a situação em que o cão fica a guardar, por exemplo, uma fábrica ou uma vivenda, mas sabe perfeitamente que, a partir do momento em que alguém salta para o território, essa pessoa não devia lá estar”. Nestes casos, explica António Ferreira, “a lei é dúbia e não tem a situação muito bem definida e, sendo o Mondioring um desporto, quem tiver cães para este tipo de atividades, tem que informar as autoridades para nos salvaguardamos, ou seja, informar que o cão faz deporto e pode acontecer esta situação.”

Além da vertente civil, a modalidade é direcionada à criação de cães com genética eficiente para poderem servir as forças policiais e militares, quer “na área de busca e salvamento de pessoas, quer nas áreas de coragem e transposição de obstáculos, ou mesmo enfrentar certos desafios, como o dos tiros, ou ter que furar um buraco e imobilizar ou morder alguém do outro lado”.

O Vice-Presidente da associação reforça que, sendo uma modalidade desportiva, todos os cães que estão em jogo têm que ter um certificado e não serem agressivos. “Têm de ser cães equilibrados, por isso, há cada vez mais testes, quer a nível de veterinário, fisicamente, quer a nível do juiz, que verifica o estado psicológico do cão que está em jogo, e se não está em agressão, porque cada vez que o cão morde em agressão é expulso da competição. Há o risco de o cão poder morder a cara, a mão ou o pé, e esses cães não são permitidos em competição”.

 

A raça Pastor Belga Malinois

A nível de raças, no desporto canino Mondioring dão primazia ao Pastor Belga Malinois por se adequar ao tipo de treino e, numa outra perspetiva, por ser uma raça em que o animal necessita de ter treino para se sentir bem, diz António Ferreira, que salienta que é fulcral haver um equilíbrio mental. “Quando se adquire um Pastor Belga Malinois, temos de ter em atenção que é um cão com uma exigência muito rigorosa, ou seja, ter apenas um espaço para correr não serve para este tipo de cão. Exige esforço mental, exige cooperação da parte do dono, e um treino mental e físico”.

Em jeito de comparação, António Ferreira diz que “se temos o Cristiano Ronaldo para a bola, nós temos o Malinois para treino, e treino é Mondioring. O cão tem que estar equilibrado e para isso existe este tipo de treino que faz com que o cão seja equilibrado em casa”. A este propósito, avança que tem cinco Malinois e são “todos equilibrados porque fazem treino de desporto canino”.

 

Apuramento para o Campeonato Mundial de Mondioring

Através da No Stress Treino Canino, Vila Pouca de Aguiar vai representar Portugal no Campeonato Mundial de Mondioring, que envolve 80 países.

Revela que, em equipa, e com bastante esforço, dedicação e pesquisa, este ano a No Stress “conseguiu ficar em terceiro lugar na Taça de Portugal e em quarto lugar no Campeonato Nacional, que dá apuramento direto para o Mundial”. A competição será no norte de Itália, no segundo fim-de-semana de outubro, para a qual partirão de Pedras Salgadas em direção a Espanha, seguindo para França até chegarem ao destino onde vão permanecer cinco dias.

Texto: Ângela Vermelho

Fotos: CM VPA