Viagem às letras de Paulo Santos recorda escritor vidaguense em noite de emoção

O Balneário Pedagógico de Vidago recebeu na quarta-feira, 18 de junho, o lançamento da segunda edição do livro “Seara Despida”, do autor vidaguense Paulo Santos. A obra, o seu terceiro livro de poesia, foi lançada em memória do escritor que faleceu a 05 de maio.

Paulo Santos preparou o terreno e cultivou a amizade de muitos aqueles que na noite de quarta-feira assistiram à inauguração da sua última obra, “Seara Despida”, um livro de poesia que o autor ansiava apresentar ao público. A morte tirou a vida, mas deixou a sua essência e o seu legado como escritor. A sua obra reuniu dezenas de pessoas numa noite quente, junto ao Balneário Pedagógico de Vidago, terra que viu nascer o poeta.

A sua obra, lançada pela editora Edições Oz, foi o mote para uma conversa alegre sobre o homem enquanto poeta. Na viagem pelas letras do ‘Paulo’, o autor foi recordado e homenageado por José Chaves, que moderou a mesa redonda, composta pela esposa Fernanda Carvalho, os autarcas Nuno Vaz e Rui Branco, os amigos e escritores Marcos Barroco e Simão Macedo e a editora Paula Lourenço OZ. A noite contou ainda com a presença de um músico que juntou a melodia às letras.

Todos abordaram e elogiaram a sua obra e lembraram Paulo como um homem “amigo”,excelente escritor”, “cultivador de amizades” e “amante da sua terra”, Vidago.

Foi a perda de um amigo, principalmente, porque para além do relacionamento que tínhamos no dia-a-dia, a nossa relação pessoal era muito boa e por isso, foi uma perda grande para mim em termos pessoais”, disse Rui Branco, Presidente da União de Freguesias de Vidago, Arcossó, Selhariz e Vilarinho das Paranheiras.

O autarca local apontou a grande perda para Vidago. “Mais do que tudo, também foi uma perda para Vidago, porque o Paulo estava sempre disponível para trabalhar por Vidago. Era uma pessoa com uma dinâmica e com ideias muito grandes para o futuro”, frisou.

Também ‘companheiro das letras’ e amigo, Marcos Barroco falou de Paulo Santos como uma “pessoa inteira e intensa”, “fácil de gostar dele”.

“Às vezes provocava-lhe alguns dissabores, mas o Paulo, mesmo assim, nunca deixava de ser genuíno e acho que essa era a grande característica dele, aquela maneira tão genuína e bruta dele ser, que ao mesmo tempo era tão carinhosa e tão verdadeira. E isso nota-se num homem, nota-se num poeta, na obra”, salientou o escritor Marcos Barroco.

SOU POETA PORQUE SOU PREGUIÇOSO

Esta era a frase que Paulo dizia várias vezes ao amigo Marcos. Este nunca levou “a sério”.

Ele repetia muito (…) que era poeta porque era preguiçoso. Eu nunca levei muito a sério, porque o Paulo tinha uma característica. Ele estava sempre a brincar. E muitas das vezes, não sei se era de intensidade, às vezes as pessoas confundiam as brincadeiras dele com outras coisas. Mas a verdade é que ele estava sempre a brincar, estava sempre divertido”.

“SEARA DESPIDA” SERIA O SEU ÚLTIMO LIVRO DE POESIA

Paulo preparava-se para deixar a poesia e dedicar-se à prosa, mas mais uma vez, o amigo Barroco não acreditava.

“O Paulo estava a tentar desbravar por outros caminhos e aventurar-se na prosa, mas eu não acredito que ele fosse conseguir deixar a poesia, porque ele era um poeta nato e nunca ia conseguiria deixar de ser poeta”, admite.

“Seara Despida” é uma obra de poesia com 79 páginas. O livro é composto por um conjunto de poemas dedicados à família, à mulher e filhos, onde Vidago surge sempre. Há ainda poemas, “divagações” de estado de alma.

“O livro termina com o poema a substância. Houve muita gente que leu este poema e achou que era uma despedida do Paulo antes de morrer. E então, as pessoas ficaram muito tocadas com isso. Acho que houve um alívio geral quando eu expliquei que este poema era uma despedida da poesia, porque ele queria aventurar-se na prosa”, apontou Marcos Barroco que diz que o ‘homem das letras’ de Vidago escrevia sempre com esperança, ao contrário dele.

“Não acredito que fosse um adeus. Era um até já, porque ele não ia conseguir tirar a pele do poeta”, explica.

AS TRÊS PAIXÕES DE PAULO SANTOS: FAMÍLIA, VIDAGO E SL BENFICA

Família, Vidago e Benfica foram as três paixões apontada ao escritor que teria uma quarta naturalmente, a literatura e a cultura.

“Ele achava piamente que o sucesso de um escritor era o sucesso de todos e acreditava que só iríamos conseguir chegar a algum sítio se tivéssemos todos. Essa era a grande luta do Paulo, que estivéssemos todos unidos e a remar para o mesmo sentido. Que puséssemos de lado os egos, as ‘picardias’ entre nós e começarmos a perceber que quando um conseguisse abrir uma porta está a abrir a porta para todos. Essa era a grande vontade do Paulo”.

VIDAGRAFO: O FESTIVAL QUE PREPARAVA

A vontade de elevar a literatura levou Paulo Santos a conceber o Vidagrafo, um Festival Literário, que preparava a sua primeira edição. Os amigos e a vila quiseram dar continuidade à iniciativa que foi projetada para a vila de Vidago, nos dias 11,12 e 13 de julho.

Ele andava muito ansioso com esta situação do Festival Literário que vai acontecer na mesma, nos dias 11,12 e 13 de julho e por isso, é para nós um grande objetivo podermos organizar as coisas conforme ele tinha pensado. Tudo iremos fazer para o podermos homenagear nesse dia e acho que hoje foi um grande testemunho do valor que o Paulo tinha para os amigos, mas também para a nossa freguesia de Vidago”, destacou o autarca de freguesia Rui Branco.

Acho que era um sonho que o Paulo queria ver concluído e todos podemos ajudar a concluir e transformar o Vidagrafo num ponto de referência”, disse também o amigo Marcos Barroco.

Vidagrafo será a celebração da literatura, música, pintura e escultura, unindo cultura e vida. Um evento dedicado à palavra e à arte em todas as suas formas e agora também de homenagem a este escritor que partiu no ano em que a “sua vila” celebra 100 anos.

“Ele tem um poema que diz que quando morresse, morria inteiro. Ele não morreu inteiro. Ele desfez-se em mil pedaços. O Paulo está dentro de nós e vai continuar a estar”.

Sara Esteves

 


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20/06/2025

Cultura

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