De jogador a treinador o virar a página de Tony ‘careca’ no futebol
Aos 12 anos deu os primeiros passos como jogador da formação do Paris Saint-Germain e aos 43 anos é agora treinador FC Politehnica Iași da Roménia. Tony da Silva fala de um percurso onde “não foi tudo fácil”, mas onde a dedicação e os valores pessoais não faltaram.
Formado nas camadas jovens do
Paris Saint-Germain (PSG) Football Club, Anthony da Silva, nascido na
comunidade francesa de Le Creusot, não esconde o longo e ambicioso percurso
futebolístico de um adolescente que deu os seus primeiros passos aos 12 anos no
PSG, quando ainda o clube não tinha o mediatismo atual. Tony, como é
vulgarmente conhecido, admite ter sido um “privilégio”.
“Fui um privilegiado porque
tanto a nível de educação, de formação enquanto homem principalmente, devo
muito à França e ao Paris Saint-Germain”, revelou o antigo jogador do GD
Chaves e o primeiro atleta com contrato de longa duração no PSG, à altura, no
programa ‘Livre emDireto’ da rádio Alto Tâmega FM.
“Fui o primeiro jogador com
contrato de longa duração em França, um contrato de oito anos. Isso não existia
na altura. Já com 12 anos era remunerado, o que me permitia ajudar os meus pais”.
Com o objetivo de “consolidar a
família”, foi a “luz familiar” que o levou a não desistir do sonho
onde “não foi tudo fácil”.
Depois de seis épocas nas camadas
jovens do PSG, Tony da Silva estreia-se como sénior em Portugal, no Grupo
Desportivo e Recreativo Cultural Os Sandinenses, corria o ano de 1999.
Ainda com contrato de um ano e meio no clube de Paris, e para “evitar
transferência”, dado o “contrato elevado” foi ‘aconselhado’ a optar
por assinar um contrato amador. Após duas épocas na equipa de Guimarães, diz
ter sido procurado por quatro clubes: as equipas B do Porto, do Braga, do
Benfica e o Grupo Desportivo de Chaves onde disse “sim”. “Vim para
Chaves por amor pela região e pelo clube. Podia ter ganho mais dinheiro noutros
lados, mas preferi vir para aqui”, diz assumindo uma “pequena mágoa” por
não ter terminado a carreira no GD Chaves.
“Só não acabei [no Chaves], simplesmente pelo treinador. Nada de
ressentimento e até acabaram por subir nesse ano com o Vítor Oliveira (…). Não
fui escolhido, uma pequena mágoa, mas sempre atrás do GD Chaves, seja em que
divisão for”, admite depois de quatro anos com a camisola do emblema
azul-grená. “Foram quatro anos onde aprendi muito, mas foram muito
delicados. A nível financeiro, o GD Chaves estava de rastos. Em quatro anos não
ganhava grandes valores e o Chaves ficou com uma dívida comigo de 34 mil euros”.
“No meu último ano [do Chaves]
acabamos por descer de divisão em Alverca. Foi dos dias mais tristes da minha
vida. Vim de Lisboa para cá a chorar a viagem toda”.
Dos ‘Valentes Transmontanos’,
onde privou com várias figuras da época, e onde incutia aos jogadores ‘de fora’
os valores dos transmontanos, Tony da Silva deu o salto para a I Liga
portuguesa no Estrela da Amadora na época 2005/2006, onde a nível desportivo “foi
fantástico”. “No primeiro ano fui eleito o melhor lateral da I Liga e
apareceram várias propostas do Toulouse, Mónaco, Lile, Corunha, Braga, Steau
Bucareste”, mas em janeiro de 2006 acabou por aceitar a proposta vinda do
CFR Cluj, da Roménia. “Foi irrecusável para mim e para o clube. Era muito
dinheiro. Fui vendido por um milhão e
setecentos mil”.
Na aventura pela Roménia destaca
sobretudo, o caminho e as conquistas alcançadas. “Fizemos algo extraordinário:
ganhei quatro taças uma supertaça, competições europeias, liga dos campeões foi
uma história muito bonita, mas de muito sacrifício”.
Após quatro temporadas e meia no
Cluj, o barrosão regressa a Portugal, por questões familiares para representar
o Vitória SC, durante duas épocas, o Paços de Ferreira, três temporadas e
termina a carreira, enquanto jogador, no FC Penafiel em 2015, clube com o qual
não se identificou com as pessoas.
Poucos meses depois é desafiado a
integrar o Académico de Viseu, mas como treinador adjunto. O virar de ‘página’
deu-se no ano de 2015, tinha 34 anos e “muitas lesões”. Nunca pensou ser
treinador. No futebol via-se apenas como diretor desportivo ou agente de
jogador, mas Ricardo Chéu, técnico na altura do Viseu fê-lo apreciar e gostar
de treinar. Na II Liga no Académico de Viseu foi treinador interino, depois da
saída de Chéu. Assume novamente o cargo de treinador adjunto no Freamunde e
estreia-se como treinador principal no AD Oliveirense na época 2016/2017.
De Oliveira de Azeméis, ruma ao
Bragança onde chegou a abdicar do salário para o clube “ir buscar
jogadores”. Treinava o clube do Campeonato de Portugal quando diz ter
recebido uma chamada de Márcio Rodrigues, presidente do Grupo Desportivo de
Vilar de Perdizes, clube que militava na distrital da Associação de Futebol de
Vila Real e que assume ter contribuído para o seu crescimento.
“Todos os treinadores que
passaram pelo Vilar foram importantes: Calina, eu e o Gamito deixamos marcas.
Eu deixei marcas em Vilar, e o carinho que recebo das pessoas, não foi como
treinador. Nós tínhamos uma boa equipa. Pessoalmente envolvi-me muito no
crescimento do clube. Eu vivo em Braga e vinha todos os dias para treinar a
equipa e mais cedo os juniores. E não pedia um cêntimo a mais. A minha avó é de
Vilar depois, juntei-me a um presidente novo, muito ambicioso, chateamo-nos
muitas vezes, mas ficou a amizade somos frontais”, salienta.
Sai do Vilar de Perdizes para a
equipa sub-19 do Chaves. “Foi um período curto, mas um momento onde senti
mais prazer ser treinador”.
A paixão é interrompida por uma
proposta como treinador adjunto da Seleção dos Camarões que assumiu entre 2019
e 2022 e onde fez história ao lado de António Conceição e privou com jogadores
de topo. “Fez-me crescer enquanto treinador e ser humano. É outra cultura
com jogadores de qualidade extrema”. Três anos e meio depois regressa a
Portugal e ao Paços de Ferreira com César Peixoto.
Em 2023 abraça o Montalegre que
tinha descido da Liga 3 ao Campeonato de Portugal. “Ainda tinha um ano de
contrato e juntei o útil ao agradável estar mais perto dos meus pais e do meu
filho. Tentamos fazer o melhor até que houve um acumular de várias situações e
de um problema de saúde onde apanhei um grande susto na vida. Graças a Deus com
as novas tecnologias consegui fazer tratamento e correu tudo bem”.
Dias antes de ser apresentado no FC
Politehnica Iași da Roménia, o Tony ‘careca’, como também é conhecido no
futebol, não escondeu que tem o sonho de treinar o Grupo Desportivo de Chaves,
embora tenha admitido não ser o “momento ideal”. Com licença de
treinador UEFA PRO, o ‘defensor de Trás-os-Montes’ quer ver bem todos os clubes
da terra e ser feliz em todos os projetos de vida.
Sara Esteves e
Márcio Pires
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04/04/2024
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