Outono veranil e septoriose põem em causa campanha da castanha com fortes quebras na produção

A Câmara Municipal de Valpaços avançou, esta segunda-feira, que a quebra de produção de castanha pode “chegar perto dos 80% em algumas áreas”

Numa visita à Serra da Padrela, no concelho de Valpaços, onde existem cerca de sete mil hectares de soutos e a maior mancha de castanha judia da Europa, Amílcar Almeida adiantou que há casos em que a quebra de produção é de 100%, estando a “média a rondar entre os 70 a 80%”.

“Estamos às portas da nossa Feira da Castanha e estamos em dúvida se vamos ter castanha sequer para ser apresentada nessa feira”, lamentou o autarca valpacense.

Entre as causas apontadas está o desenvolvimento de septoriose, um fungo que provoca a secagem e queda antecipada da folha do castanheiro que acaba por ficar acastanhadas e amareladas.

Para José Gomes Laranjo, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e membro da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), há uma “conjugação de fatores” que justificam o “flagelo” da quebra abrupta na produção de castanha.

“Em primeiro lugar, um acidente climático, a conjugação de uma precipitação bastante forte, que ocorreu a partir de meados de setembro, com calor que originou o desenvolvimento deste fungo que é a septoriose do castanheiro”, esclareceu, adiantando que este é um problema que está “espalhado pelo país”.

Em declarações ao grupo Sinal, também Lino Sampaio, membro da direção da Agrifuturo, sediada em Carrazedo de Montenegro, explicou que o verão tardio que está a marcar o arranque do outono em todo o país obrigou a uma mudança de “perspetiva” quanto à campanha da castanha.

“Até há duas a três semanas via de uma maneira e, hoje, vejo de outra. As coisas mudaram um bocadinho porque isto é uma cultura a céu aberto, o clima alterou completamente e estas temperaturas (altas) vieram dar cabo de algumas plantas”, lamentou.

Da mesma forma que “houve agricultores que estiveram atentos, fizeram algum tratamento preventivo e as coisas estão mais ou menos controladas”, existem “situações que estão um bocadinho fora do controlo”, alertou o responsável.

“Como região, temos de fazer este tipo de tratamentos todos juntos, porque é um território tão pequenino, (mas) com um potencial tão grande que temos de acertar estratégias mais assertivas uns com os outros para termos um futuro melhor”, reiterou.

Também José Gomes Laranjo alertou para a falta de tratamentos preventivos com produtos à base de cobre, prevendo um “prejuízo na ordem das 12 mil toneladas de castanha, o que significa qualquer coisa como 26 milhões de euros”, avançou.

FALTA DE APOIO

Preocupado com o “impacto económico” das quebras de produção, Amílcar Almeida apontou o dedo ao Governo, reclamando a criação de linhas de apoio para ajudar os produtores locais de modo a repor o “potencial produtivo” ou “isenções” nos pagamentos à Segurança Social.

Ao mesmo tempo, o autarca pediu a intervenção da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN) para a realização de análises para se apurar o que está a afetar os castanheiros, bem como apontar os tratamentos que podem ser feitos para evitar as mesmas consequências no futuro.

Amílcar Almeida quer perceber o que está a provocar a “quedas a pique” na produção de castanha no concelho de Valpaços que, este ano, também foi afetado por intempéries na produção de azeite, vinho e amêndoa.

Lino Sampaio alertou, ainda, para a necessária intervenção do meio académico, pedindo que este olhe para a cultura da castanha com mais atenção.

“Atrevo-me a dizer que o norte todo do nosso país, de Vila Real até Bragança, a parte do interior, vive um bocadinho da (produção) de castanha. Precisamos de muito mais apoio por parte das universidades e dos investigadores para que nos ajudem e olhem para esta cultura com outros olhos, porque acaba por fixar gente no interior”, vincou.

Caracterizando a falta de mão-de-obra como “um mal menor”, o responsável reiterou que a maior preocupação da Agrifuturo é o facto de o agricultor mais velho “não estar atento e pensar que o que acontecia há 20 anos vai acontecer hoje, e não acontece”, esclareceu.

Lino Sampaio adiantou, ainda, que há agricultores a chegar “ao limite” e a ponderar se vão ou não continuar com a produção de castanha.

 

Mariana Ribeiro


Partilha Facebook-
09/10/2023 Repórter de imagem: Carlos Daniel Morais

Sociedade

partilha facebook