Utentes e profissionais de saúde em Marcha pelo direito à saúde

De Chaves ao Porto vários transmontanos viajaram para defender o Serviço Nacional de Saúde.

Perto de 20 utentes e profissionais de saúde partiram no sábado, 20 de maio, de Chaves de autocarro para participarem numa Marcha pelo direito à saúde, junto ao Hospital de São João, no Porto.

Momentos antes da partida, a Sinal TV conversou com dois profissionais do Hospital de Chaves que explicaram os motivos que os levaram a participar nesta luta.

''As mais valias no Hospital de Chaves são cada vez menos e o descontentamento do pessoal aumenta'', disse Albino Morais com 65 anos de idade e 49 anos de serviço. Este profissional de saúde pediu aposentação mas acabou por optar por trabalhar mais um ano.

''Coloquei o processo para me aposentar, mas acabei por não aceitar porque por não ter 66 anos de idade, em vez de me descontarem 10% passavam-me a descontar 20% e optei por continuar a trabalhar por mais um ano, e assim conseguir que tenha a aposentação completa'', aponta este assistente operacional.

A Marcha pelo Direito à Saúde, sob o lema ''Mais SNS, Melhor Saúde!'', defendeu a valorização dos salários e das carreiras e a melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde.

Para Manuel Cunha, todos têm que perceber que para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) possa continuar a fazer a sua função é necessário que no futuro ''não se assista a um investimento cada vez maior no negócio da doença e no desviar de dinheiros públicos para sustentar interesses privados de saúde''.

Médico no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) reconhece que grande parte da população não tem médico de família e muitos dos que têm ''estão a mudar de médico a uma velocidade tal que na prática não têm''. Outro problema apontado tem que ver com a idade dos profissionais de saúde.

''Temos uma quantidade elevada de médicos que estão a chegar à idade da reforma e outros que já estão mas não se reformam porque se sentem comprometidos com o SNS. No Alto Tâmega, dos 74 médicos, 28 têm mais de 60 anos e há muitos que já têm mais de 66 anos. Quanto mais idoso for um médico, mais natural é que esteja de baixa por doença e tenha dificuldades em corresponder àquilo que se espera da produtividade de um médico'', revela.

Quanto aos cuidados hospitalares, Manuel Cunha não compreende como é que o CHTMAD está sem direção clínica desde agosto. ''Como é possível que este Conselho de Administração esteja à espera de ser reconduzido desde dezembro de 2020/2021. Já passaram nove meses e o diretor clínico que saiu, um mês depois, estava a ser nomeado diretor clínico no Hospital de Braga. Como é que o governo permite isto, sem ter uma situação para o hospital de origem?'', contesta Manuel Cunha diretor do Serviço de Hematologia Clínica do CHTMAD.

Também a Presidente do Conselho de Administração, Rita Castanheira, pediu renúncia em março deste ano. Neste momento, o Conselho de Administração mantém-se em funções com três elementos, em vez de cinco, após saída da diretora clínica Paula Vaz Marques e da vogal executiva Elsa Justino.

''Estamos numa altura de gravidade do SNS e estamos a fazer uma grande reforma que não foi discutida com ninguém, e que quanto sei, não estava no programa eleitoral do PS e no programa do Governo. Estamos a transformar todas as estruturas em unidades locais de saúde e não sabemos quem é o interlocutor na reformulação que se está a dar'', termina por dizer este profissional que abordou também a degradação dos salários, que leva à dificuldade em captar profissionais de saúde.

Sara Esteves
Fotos: Carlos Daniel Morais


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22/05/2023

Sociedade

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