O curioso e complexo mundo dos cogumelo

O outono é a estação do ano com características marcantes, os dias começam a ficar mais pequenos, as temperaturas descem gradualmente, as chuvas regressam e as árvores despem a folhagem num gradiente de cores de rara beleza.

O outono já vai longo, mas há algo de mágico que nesta época do ano surge nas nossas serras e terrenos agrícolas. Os cogumelos! É destas preciosidades que lhe vamos falar de uma forma descontraída e acessível neste artigo, com o objetivo de esclarecer algumas dúvidas e desvendar algumas curiosidades.
Primeiro vamos chamar os “bois pelos nomes”, os cogumelos são níscaros ou míscaros é comum ouvir-se por cá, mas também ouvimos falar em “Tortulhos”, “Sanchas”, “Pinheiras,” entre outros. Tudo são cogumelos.
A primeira grande questão que devemos esclarecer é que todos estes nomes comuns oriundos do vocabulário popular referem-se a espécies de cogumelos diferentes, sem origem na sua classificação científica, o que dificulta a sua identificação de região para região e muitas vezes, até, de aldeia para aldeia. Portanto, ao que chamamos “Tortulho “, “Níscaro” ou “Sancha” na nossa zona, pode corresponder a outra espécie completamente diferente em outra região ou para outra pessoa.
Assim é importante ter algum conhecimento dos seus nomes científicos para identificar melhor as espécies que muitas vezes queremos recolher. Hoje existem vários guias de identificação que podem ajudar nessa tarefa para quem quer apenas saber mais sobre este fantástico mundo.
Os cogumelos são frutificações de alguns fungos. O reino Fungi é o nome utilizado para designar o reino dos fungos, que abrange as leveduras, os bolores e todas as espécies de cogumelos.
Os fungos que formam cogumelos são seres microscópicos que têm a forma de filamentos muito finos chamados hifas. O conjunto das hifas é o micélio, também conhecido por “bolor”. É nos cogumelos que se formam os esporos que podem ser transportados pelo vento e permitem que os fungos se espalhem no ambiente. Os esporos espalham se no ar e aos encontrarem condições ideais no solo formam novas hifas dando lugar a novos cogumelos.

A importância da apanha dos cogumelos com cestas resulta do facto de nos tornamos num agente de disseminação dos esporos pelas florestas pois os esporos irão espalhar-se através dos orifícios das cestas fomentando a novas colonias de hifas e possivelmente novos cogumelos.
As hifas alimentam-se de matéria orgânica e ramificam-se de forma muito eficiente para se alimentar e de acordo com a sua fonte de alimentação podem se classificar como, Fungos saprófitas - alimentam-se de matéria orgânica morta, Fungos parasitas - alimentam-se de um organismo vivo, Fungos micorrízicos - vivem associados com outros organismos.
No Boticas Parque - Natureza e Biodiversidade já foram identificadas mais de 100 espécies o que espelha bem a biodiversidade e a complexidade deste mundo.
Vamos falar de algumas espécies:
Tricholoma equestre- O nosso amigo “Tortulho” é um dos mais comuns pelos nossos pinhais é um cogumelo abundante bastante saboroso muito utilizado na gastronomia local, no entanto foi recentemente classificado como toxico sendo registados casos de intoxicação grave na região de França. A toxicidade está associada a uma toxina que provoca rabdomiólise é a destruição das fibras musculares e outras complicações. Na idade média este cogumelo só podia ser apanhado pelos cavaleiros sendo o povo proibido de o consumir, nasce assim a classificação “equestre”.

Macrolepiota procera- Conhecido por diversos nomes populares, fradelhos, frades, centeeiros, choteiros, rocas, gasalhos e muitos outros. Aparecem em de terras cultivadas e terrenos ricos em matéria orgânica devem ser colhidos com o seu “chapéu” já aberto de forma a permitir reconhecer o anel solto que os faz diferenciar do “falso frade” Macrolepiota venenata.

Amanita moscaria – É das espécies mais abundantes e facilmente reconhecida nesta altura do ano. Muitas vezes ilustrada na literatura devido à sua exuberância e aspecto vivaz, possui propriedades psicoactivas e alucinogénias devido, sobretudo, à presença de ácido iboténico e muscimol.

Amanita phaloides – Chapéu da Morte ou também conhecido como Rebenta Bois (não confundir com o insecto- Berberomeloe majalis) é também um cogumelo bastante comum na nossa região e talvez um dos mais mortais em caso de consumo. Estima-se que seja responsável pelos casos mais graves de intoxicação e por 90% das mortes associadas ao consumo de cogumelos. As suas toxinas atacam o fígado e rins provocando graves danos muito antes dos primeiros sintomas.

Sparassis crispa- A couve-flor das nossas serras, este cogumelo parasita de coníferas é uma espécie comestível que raramente é apanhada na nossa região, não tendo tradição da sua apanha passa muitas vezes despercebido aos olhos dos colectores. Com cerca de 15-40 cm de largura por 15-25 cm de altura de forma arredondada, formado por um tronco central do qual saem ramificações carnosas, planas ou enrugadas que no todo dão aspecto de esponja ou couve-flor, quando jovem tem cor creme com as bordas da ramificação ocre e em velho fica um pouco mais escuro.

Boletus pinophilus – Conhecido na região por “níscaro de pinheiro” é a espécie mais procurada pelo seu interesse económico e gastronómico. Normalmente associado a bosques de coníferas e folhosas é um excelente comestível. No grupo dos Boletus existem outras espécies comuns na região como é o caso do Boletus edulis que de adapta a solos silícios bem drenados. São cogumelos provenientes de um Fungo micorrízico, o que significa que vivem associados com outros organismos é por esse motivos que é frequente associar o nome das plantas ao cogumelo.

Nuno Teixeira


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22/11/2022

Sociedade

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