Santos saíram à rua e Chaves agradeceu enchente

O principal evento da cidade de Chaves decorreu nos dias 29,30,31 de outubro e 1 de novembro. A cidade foi invadida por milhares de visitantes e a organização fez um balanço “muito positivo” de mais uma edição da Feira dos Santos.

O ditado popular diz ‘’Santos da casa não fazem milagres’’, mas Chaves soube contrariar o dito e foi invadida por milhares de visitantes no fim-de-semana prolongado de Feira dos Santos, o ex-libris festivo da cidade e região, realizado desde tempos que se vão perdendo na memória, com tradições que teimam em não se perder.

A organização faz um balanço muito positivo da Feira dos Santos de 2022, “a nível da população, visitantes e do comportamento das pessoas que foi amplamente exemplar na maioria das situações”, “ revelou Vítor Pimentel. O Presidente da ACISAT explicou ainda que a organização apontou algumas situações que deverão ser melhoradas nas próximas edições. “A reformulação de algumas artérias, para evitar constrangimento a moradores, será uma das principais preocupações. Aproveito para salientar o impacto que o evento teve sobretudo na Hotelaria e na Restauração e por consequente em toda a cadeia de valor porque há setores que beneficiam diretamente, outros indiretamente”, explica o responsável por esta associação empresarial.

Os ‘’Santos’’, como popularmente se conhecem, repetem-se anualmente, quando outubro expira e novembro começa. Por uns dias, a Feira dos Santos transforma o espaço público em que se realiza e a realidade do local. As ruas da cidade tornam-se, nesta altura do ano, um espaço de convivência, repleto de sons, cheiros e movimentos, numa agitação que marca tudo e todos. Este ano não foi exceção. “Decorreu tudo dentro da normalidade. A animação revelou-se um sucesso com três noites em que o Largo General Silveira esteve completamente lotado. A Festa dos Anos 90 também voltou a ser, uma vez mais, um grande sucesso e agora é começar a trabalhar novamente, em articulação com o Município de Chaves, para que a edição de 2023 seja ainda melhor” , frisou Vítor Pimentel acrescentando que esta ,“foi a primeira feira depois da pandemia que podemos dizer que foi normal. Notava-se que as pessoas tinham muitas saudades desta feira. A vinda de um canal nacional deu um impulso grande e o tempo chuvoso para os quatro dias acabou por não se confirmar” termina por dizer o Presidente da ACISAT sobre a edição da Feira dos Santos de 2022 cujo investimento global rondou os 140 mil euros. Quanto ao retorno a organização ainda está a fechar contas mas “não será, tal como em outros anos, significativo. O que nos interessa é a razão de ser desta feira por aquilo que traz aos diferentes setores do concelho e ao que é injetado na nossa economia” .

FEIRA DOS SANTOS É DESTINO PARA COMPRAR VENDER E GANHAR PRÉMIOS COM GADO

O terceiro dia de Feira dos Santos é destinado aos animais e inicia bem cedo no Mercado do Gado em Chaves. Neste espaço, na Zona Industrial em Outeiro Seco, sente-se a habitual azáfama dos produtores e dos compradores de gado bovino, caprino, ovino e equino. Adelino Fontinha é negociante de gado bovino. Vem de Vila Real para vender vitelos e diz “Mais tivesse, mais vendia. Trouxe 11 vitelos e já os vendi todos. O preço é praticamente igual aos anos anteriores mas na nossa vida de negociante é preciso olhar a números”, refere Adelino Fontinha que já pensa em comprar mais animais com o dinheiro que fez nesta Feira do Gado. De olhos postos ‘’na carne boa’’ está Belmiro Machado, proprietário de um talho em Braga. “A Feira está fraca este ano. Todos os anos venho aqui ver os meus amigos e à procura de vacas/bois com carnes de qualidade. Aqui os pastos são bons e os alimentos também, espero encontrar uma boa vaca para fazer revenda”, revela este comprador.

No Forte de S. Neutel voltou a cumprir-se mais uma edição dos concursos de Gado. A votação do júri estiveram cerca de 100 animais provenientes de vários pontos do país, sobretudo da região Norte do país. Foi realizado o XIX Concurso Nacional Pecuário de Raça Barrosã, Maronesa e Mirandesa e o VIII Concurso Concelhio de Suínos da Raça Bísara. Ambos premiaram os melhores exemplares de cada raça.

MANDA A TRADIÇÃO COMER POLVO

Entre comprar, vender e observar diferentes espécies de gado surge a vontade de petiscar e é ao lado do Forte de São Neutel que decorre o Festival Gastronómico do Polvo. Mas esta iguaria à galega, distribuída em pratos de madeira, é vendida um pouco por toda a cidade. No Mercado do Gado a procura pelo polvo foi notória. Às 11h30 da manhã já se fazia fila ao pé do pote de cobre de José Areias. “Estou aqui desde as sete horas e já perdi a conta ao polvo que já vendi. O polvo está caro. Subiu muito o preço mas estou a vender a 15 euros o prato, tem que ser” . Pouco surpreendido com o valor ficou José de Carvalho. “Estava a contar pagar mais. O ano passado paguei 20 euros e agora foi 15 euros mas se fosse vinte comia igual. Nestes dias não se olha ao preço” , diz este flaviense reformado. “É uma tradição. Estou reformado e venho sempre aqui ao Mercado do Gado, já vendi uns vitelos, revi amigos e agora vim provar o polvo. Está muito bom” .

RUA ACIMA, RUA ABAIXO É ÉPOCA DE “FEIRAR“ REVER AMIGOS, FAMÍLIA E CUMPRIR TRADIÇÕES

A Feira dos Santos atrai todos os anos milhares de pessoas à cidade de Chaves. Chegam de todos os cantos do mundo, principalmente do norte de Portugal e da vizinha Espanha, para a considerada maior feira de rua do norte do país. São mais de quatro quilómetros de feira que ‘’obrigam’’ ao corte de trânsito de várias avenidas. Pois os 500 expositores encontram-se distribuídos pela cidade e o comércio faz-se literalmente no espaço público. É na rua onde se vende um pouco de tudo. Roupa, calçado, artesanato, farturas, frutos secos, fruta e legumes, vinhos e licores, pão, azeite, fumeiro, queijos, antiguidades, utensílios de casa e agrícolas, artigos de lar, e muitos outros artigos.

Sérgio Lousada apesar de não residir em Chaves faz questão de todos os anos visitar a sua terra nestas datas. “Aproveito sempre para rever amigos, família e costumo comprar alguns produtos tradicionais e algumas recordações para levar” . Foi o caso de um outro visitante que veio de Ribeira de Pena para os ‘’Santos’’. “Já costumo vir cá. Gosto de apreciar isto porque é transmontano. Nasci no Minho mas considero-me transmontano. Isto é um espetáculo, compro aqui umas meias, ali umas calças e fumeiro. Aqui há de tudo” , refere em tom de alegria.

Em clima de festa a Alto Tâmega TV encontrou uma apaixonada pela cidade. Apesar de viver no Algarve tem família flaviense e nesta altura do ano vem sempre à Feira dos Santos. “Gostamos muito de Chaves, da paisagem, da comida e do copo. Já compramos alheiras, castanhas e vamos ver se encontramos mais alguma coisa”, diz Anita Guerra acompanhada pela família.

NEGÓCIO: MUITA GENTE MAS POUCOS SACOS NA MÃO

Apesar da maioria do comércio ficar concentrada nos expositores, todos os comerciantes flavienses beneficiam com a realização da Feira dos Santos, desde a restauração, cafés, lojas, hotéis entre outros serviços. O evento carrega séculos de história e tradição, mas também move a economia do concelho.

Apesar de ser uma feira com personalidade própria, que congregando saberes, tradições e rituais, organizados ao longo do ano e que teimam em não se perder, o negócio dizem os comerciantes já não é o mesmo. “Venho de Lamego, faço a feira há 30 anos e isto está cada vez mais fraco” , explica-nos Maria Gonçalves que vende tapeçaria. ” Os lugares estão mais caros e vende-se cada vez menos. Nem toda a gente compra. Há muitas pessoas que só vêm ver” .
Octávio Carvalho é um dos comerciantes flavienses que ainda se recorda da primeira Feira dos Santos que fez. “Agora está relativamente diferente. Agora é mais moderno. Encontra-se gente de todo o lado e antigamente eram só pessoas da zona. Mesmo assim, o negócio podia correr melhor esperamos sempre mais” , diz este vendedor de latoaria e utensílios para a suinicultura.

De Vila Nova de Famalicão para Chaves chega uma vez mais André Mendes. É comerciante de peças de ouro, prata, antiguidades e um adepto do Grupo Desportivo de Chaves. “Faço a feira há mais de 20 anos e até agora está a correr bem, logo que não chova” .

“SANTOS MOLHADOS SANTOS ABENÇOADOS”

O São Pedro não se comportou muito mal. A chuva acompanhou de forma intercalada os primeiros dias da feira mas o sol também espreitou e Chaves recebeu uma enchente. Nas ruas, nas arruadas, nas diversões, nas tasquinhas, nos concertos e nos espetáculos, por todo o lado viam-se centenas de pessoas que deram um colorido especial à feira. As exposições de automóveis e de máquinas agrícolas também foram algumas das atrações procuradas pelos visitantes.

“SANTOS É TAMBÉM SINÓNIMO DE VISITA AOS CEMITÉRIOS”

Nem só de festa vive a Feira dos Santos. No dia 1 de novembro, feriado nacional, muitas pessoas rumam ao cemitério para prestar homenagem aos que já partiram. Sem condicionalismos as pessoas levam as habituais flores e acendem velas na véspera do dia de fiéis defuntos para os católicos.

Nos quatro dias de Feira dos Santos a PSP de Chaves tomou conta da segurança dos cidadãos tendo sido convidado o Corpo Nacional de Policia de Espanha (CNP) para uma operação de maior proximidade junto dos cidadãos estrangeiros, em particular os de nacionalidade espanhola.

A Sessão Oficial de Abertura da Feira dos Santos 2022 decorreu na Sala Polivalente da Biblioteca Municipal e foi presidida pela Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, que aproveitou a ocasião para prestar contas e apresentar várias medidas governamentais para apoiar o setor. O evento contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Chaves, Nuno Vaz, do Presidente da CCDR-Norte, António Cunha e do Presidente da Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT), Vítor Pimentel. O maior evento da cidade de Chaves foi organizado uma vez mais pela ACISAT e pelo Município de Chaves.


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03/11/2022 Jornalista: Sara Esteves Repórter de imagem: Carlos Daniel Morais

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