ONG contestam apoio da Comissão Europeia à mina de lítio em Covas do Barroso

Três organizações não governamentais (ONG) pedem à Comissão Europeia para avaliar apoio à mina do Barroso, em Covas do Barroso, no concelho de Boticas.

A Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), a MiningWatch Portugal e a ClientEarth pedem à Comissão Europeia que reavalie a decisão de classificar a mina do Barroso, um projeto de lítio a céu aberto e outros minerais, como projeto estratégico. Segundo um comunicado conjunto destas organizações, este estatuto permite tratamento preferencial no licenciamento, na avaliação do seu impacto ambiental e no financiamento desta mina.

Estas três organizações não governamentais (ONG) consideram que a Comissão Europeia “não avaliou corretamente os riscos ambientais e sociais da mina a céu aberto antes de lhe conceder o estatuto estratégico”, classificação concedida em março ao abrigo do Regulamento das Matérias-Primas Críticas (CRMA).

"Esta mina representa uma séria ameaça a um ecossistema frágil e a uma região com uma herança cultural única. E a comunidade que aqui vive tem manifestado consistentemente a sua oposição. A Comissão Europeia não pode permitir que a transição verde seja construída com base em danos ambientais e injustiça social”, disse Ilze Tralmaka, advogada da ClientEarth, citada em comunicado.

Entre as preocupações estão os recursos hídricos locais, a biodiversidade e as práticas agrícolas que sustentam a comunidade de Covas do Barroso.

"Classificar este projeto como 'estratégico' serve apenas para justificar a degradação ambiental e os prejuízos para as comunidades locais, ignorando a incerteza económica do lítio e a contínua incapacidade da Europa em desenvolver uma cadeia de valor coerente para baterias", afirmou Nik Völker, da MiningWatch Portugal, outra organização não governamental, também citada em comunicado.

No mesmo documento lê-se que os residentes há muito alertam que o projeto põe em risco as suas terras e os seus meios de subsistência.

“As pessoas aqui dependem de água limpa de nascentes e rios: para beber, para a agricultura e para o gado. Se essa água se tornar escassa ou contaminada, o nosso modo de vida fica em risco. Para quê? Para alguns anos de lítio trocados por mais carros e um novo tipo de poluição”, disse Catarina Alves, da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, citada em comunicado.

Os grupos argumentam que “substituir os carros a combustão por elétricos, sem repensar o sistema de mobilidade como um todo, é uma solução falsa”.

“Sustentabilidade real significa priorizar o transporte público, inverter a tendência de compra de carros maiores e SUVs, investir na reciclagem e, assim, reduzir a necessidade de nova mineração – ao mesmo tempo que se apoia, e não se marginaliza, as comunidades rurais”, concluiu Catarina Alves.

As ONG apelam à Comissão que reavalie a sua decisão e que adote “um processo rigoroso, baseado em evidências, que verifique de forma independente as alegações dos promotores e priorize projetos que realmente estejam alinhados com os objetivos de sustentabilidade da Europa”.

As organizações ambientalistas têm o direito de pedir às instituições e organismos da UE – neste caso à Comissão Europeia a revisão de uma decisão por alegada violação da legislação ambiental europeia. A Comissão deve responder oficialmente a este “pedido de revisão interna” no prazo de 16 semanas, prazo que pode ser prorrogado até 22 semanas. Se os requerentes considerarem que a resposta da Comissão não resolve a infração legal, podem processar a Comissão no Tribunal de Justiça da União Europeia.

 

Sara Esteves

Foto: DR


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12/06/2025

Sociedade

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