Artes marciais procuram “criar guerreiros para a vida” e ajudar a gerir as emoções

As crianças representam 70 a 80% do universo de praticantes de artes marciais no concelho de Chaves. Mais do que criar atletas, segundo o professor e carateca Frederico Hilário, estes desportos de luta ou de combate procuram formar homens e mulheres

Frederico Hilário pratica karaté desde os nove anos de idade e cumpriu, recentemente, o sonho de abrir o próprio espaço dedicado à prática de artes marciais em Chaves. Em entrevista ao Canal Alto Tâmega, o professor botiquense explicou que existia a dificuldade em alargar a oferta existente devido à limitação de horários no espaço cedido ao Karaté Clube Alto Tâmega.

“O Karaté Clube Alto Tâmega treina na Escola Nadir Afonso e as crianças têm aulas até às 18 horas e havia a necessidade de abrir um espaço em que se pudesse treinar de manhã, para os mais pequeninos, a partir dos quatro anos, a partir das 17 horas, por exemplo. Na escola não era possível, porque o Pavilhão está ocupado”, esclareceu.

Desta necessidade nasceu a Academia de Artes Marciais de Chaves, na qual se incluem é possível praticar, além de karaté infantil, iniciação e karaté jutsu, voltado para a defesa pessoal, jiu-jitsu e boxe chinês. Fora deste leque, duas vezes por semana é possível praticar pilates.

Segundo Frederico Hilário, as crianças representam “70 a 80%” do público que pratica artes marciais, sendo que algumas delas são encaminhadas por médicos ou psicólogos, destacando a importância destas modalidades para a gestão de emoções e enraizamento de valores.

“O Karaté tem alguns valores que nós tentamos seguir, o aprimorar o carácter. O carateca deve ser uma pessoa de bem, deve ser sincero consigo próprio e, também, com os colegas de treino, (deve) saber estar. Dentro do dojo, o local onde praticamos, há algumas regras (a cumprir): a postura, o cuidado com o local de treino, a higiene, depois o autocontrolo. O carateca também deve controlar as suas emoções, porque é necessário, (já que) é posto à prova durante o treino, nos exames, competições, e o autrocontrolo é treinado. Nas crianças trabalha-se muito isto, têm de saber esperar, sentar-se corretamente, quando querem falar, (têm de) levantar o dedo”, enumerou Frederico Hilário.

O professor destacou, a este propósito, a inquietação e impaciência que imperam entre os aprendizes mais novos “à conta dos ecrãs”.

“É um problema atual, a criança não sabe esperar, tem muita dificuldade, tem muitos estímulos ao estar com o telemóvel, e aquele momento em que está na aula é quando se trabalha isso, o que é importante. As artes marciais em geral potenciam isso, ajudam a criança a concentrar- se”, reiterou.

Por tudo isto, mais do que formar caratecas ou desportistas, Frederico Hilário procura formar homens e mulheres.

“Os pais, muitas vezes, não têm tempo para brincar com as crianças, estão muitas horas fora de casa, as crianças passam o dia na escola, depois têm de ir para o ATL (Atividades de Tempos Livres) ou para outras atividades, e os professores, no meu caso, o professor de karaté vai ajudá-las. A criança quando entra nas artes marciais, como qualquer pessoa, não tem a intenção de ser campeã do mundo, mas é sempre (como o objetivo) de criar guerreiros para a vida”, vincou Frederico Hilário.

A par das crianças, também as mulheres, sobretudo “a partir dos 30 anos”, têm procurado as artes marciais, nomeadamente a prática de karaté jutsu, superando o número de atletas do sexo masculino “pela questão da defesa pessoal”.

“Nas artes marciais, num primeiro momento, não importa tanto a técnica mas, sim, como o praticante se posiciona perante uma agressão. Saber sair daquele momento de conflito, como se posicionar, a atitude perante a agressão, é mais importante do que saber defender um soco, tal como saber fugir da agressão. Isto é defesa pessoal, não sofrer danos”, concluiu.


Mariana Ribeiro


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05/12/2023 Fotografias: David Teixeira

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