Região em seca severa ou extrema começa a ser preocupante

Portugal já tinha sido atingido por duas secas graves este século, mas em nenhuma se chegou ao final de fevereiro com tantas regiões em seca severa ou extrema.

Quase sem chuva e com temperaturas mais altas que o normal, a seca que já era grave, voltou a agravar-se e segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o valor médio da quantidade de precipitação no atual ano hidrológico 2021/2022, desde 1 de outubro 2021 até fevereiro de 2022, corresponde a 39% do valor normal.

Não está prevista chuva até meados deste mês de março e a temperatura do ar deverá manter-se acima do valor médio.

O Jornal de Chaves quis ouvir a opinião de alguém com conhecimento de causa e falou com Márcio Santos da conhecida página do facebook Meteo Trás os Montes - Portugal que começou por dizer que “a situação de seca é grave e é real, não vale a pena menosprezar os dados disponibilizados pelo IPMA, que indicam que toda a nossa região se encontra no final do inverno meteorológico (dez-jan-fev) em seca severa ou extrema, quando o normal seria estarmos com os campos saturados de água ou muito próximos disso, excetuando os episódios de inversão térmica muito localizados, com valores de temperatura mínima muito baixa em Chaves, podemos afirmar que não houve inverno na região na temporada 2021/2022”, referiu Márcio Santos que fez mesmo questão de explicar o que pode advir desta seca.

“Toda esta situação está a refletir-se nos níveis de água baixíssimos das barragens da região, como Curalha, Arcossó ou Rego do Milho, sistemas construídos para colmatar as carências de água em culturas de regadio, que atendendo ao atual estado dos solos, com índices de humidade baixíssimos e cada vez mais próximos do ponto emurchecimento permanente das plantas e à previsão de ausência precipitação significativa pelo menos até meados de março, está preocupar os nossos produtores que irão necessitar de água para os meses do estio que se aproximam rapidamente”.

Segundo o criador da Meteo Trás os Montes - Portugal, “cabe clarificar que vimos de um período muito seco que não se fica apenas pelo inverno meteorológico que agora terminou, o outono foi igualmente seco e a generalidade de 2021 também, pelo que terá de chover com muita abundância para que pelo menos se possa atenuar o cenário de seca nos próximos meses”. 

A Meteo Trás os Montes - Portugal tornou-se numa das maiores referências com mais de 150 mil seguidores que acreditam nas suas previsões e segundo estes avizinham-se tempos difíceis. “Os solos estão completamente secos e os cursos de água também. São necessários muitos litros por m2 (anomalias positivas de precipitação) para que os solos libertem água para os rios e daí para as barragens e de momento, apesar da melhoria geral nos modelos de médio e longo prazo, não se vê este cenário e a questão é mesmo esta, o tempo parece estar a esgotar-se e se a dinâmica atmosférica não mudar efetivamente para um padrão húmido e duradouro até abril, teremos um verão, que será certamente longo como tem sido habitual nos últimos anos, muitíssimo complicado”, concluiu o flaviense Márcio Santos.

 

 

Governo lança linha de crédito de 20 ME para responder à seca

 

 

Recorde-se que para mitigar o impacto da seca o Governo já reuniu com as confederações dos agricultores.

O Ministério da Agricultura vai lançar uma linha de crédito de 20 milhões de euros para fazer face à seca e um aviso de três milhões para equipamentos de depósito e distribuição de água.

Segundo a Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, “estamos a preparar, e em processo legislativo, uma linha de crédito de médio prazo, três anos com um de carência, com um valor de 20 milhões de euros para fazer face a esta seca”.

Esta medida vem juntar-se à já existente linha de crédito de curto prazo, com juros bonificados para todos os agricultores e majoração de bonificação de juros para agricultores com o estatuto da agricultura familiar.

A Ministra adiantou também que foi aberto um conjunto de avisos, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), para que os agricultores “pudessem apetrechar-se de equipamentos», como cisternas, equipamentos para a distribuição de água, depósitos, bebedouros, tanques ou instalação de tubagens”. Este aviso, em vigor até 1 de abril, destina-se aos territórios vulneráveis e tem 15 milhões de euros de dotação.

O Governo está agora a preparar um novo aviso, que deverá abrir a 4 de março, destinado a todo o território do Continente, com três milhões de euros para apoiar a compra destes equipamentos.

“Temos também uma linha de crédito disponível, com garantia do Estado, através do Fundo Europeu de Investimento, para as nossas empresas agrícolas que estejam a fazer investimentos e que precisem de fundo de maneio para fazer face aos problemas que decorrem desta situação”, disse Maria do Céu Antunes.

Paralelamente o Governo lançou avisos com dotação superior a 50 milhões de euros para a instalação de painéis fotovoltaicos nas explorações agrícolas, “ajudando os agricultores a produzir energia limpa, a serem autossuficientes e, com isso, reduzirem os custos de produção”.