ONGs criticam a Comissão Europeia em querer avançar com projeto mineiro em Covas Barroso

Organizações não governamentais (ONG) criticam a Comissão Europeia por defender o avanço da mina de lítio a céu aberto em Covas do Barroso, no concelho de Boticas, após ter rejeitado o pedido da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), da MiningWatch Portugal e da ClientEarth para remover o projeto da mina do Barroso da sua lista de projetos estratégicos.

Estas organizações alertam que a decisão da Comissão Europeia “arrisca sacrificar regiões rurais e ecossistemas frágeis por lucros de curto prazo”.

As ONGs e grupos comunitários já haviam contestado em junho a decisão da Comissão de classificar o projeto como “estratégico”, por “ignorar evidências crescentes de que o desenho da mina apresenta riscos ambientais e de segurança graves”.

“Mas, em vez de abordar as sérias preocupações ambientais e sociais levantadas, a Comissão descartou em grande parte as críticas substanciais de natureza ambiental e social apresentadas pelas comunidades”, lê-se numa nota enviada pela Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso.

De acordo com esta associação, a Comissão Europeia argumentou que “as principais questões desde a escassez de água à biodiversidade e à segurança das barragens de rejeitos são da responsabilidade de Portugal, sublinhando que o seu papel ao abrigo do Regulamento dos Materiais Críticos não existe a verificação do cumprimento integral da legislação ambiental da UE”, tendo considerado ainda a mina de Barroso “sustentável”, “criando uma presunção legal de que o projeto serve o interesse público e protege a saúde e a segurança públicas, mesmo com todos estes riscos por resolver”, esclarece a UDCB.

Explicam que a Comissão “recusou igualmente examinar os impactos sociais e de direitos humanos do projeto, mesmo quando poderiam resultar de potenciais danos ambientais”.

“Dizem-nos que esta mina é para o bem da Europa, mas quem vai pagar o preço somos nós que aqui vivemos. As nossas nascentes, o nosso solo e as nossas explorações agrícolas são o que mantêm esta comunidade viva. Uma vez destruídos, desaparecem para sempre. A Europa não pode construir um futuro verde destruindo lugares que já vivem de forma sustentável. Covas do Barroso não é uma zona de sacrifício, é a nossa casa”, salientou Aida Fernandes, representante da UDCB, citada em comunicado.

Também a advogada da ClientEarth, Ilze Tralmaka, citada em comunicado, refere que “a Comissão está errada em utilizar o Regulamento das Matérias-Primas Críticas para acelerar projetos que a ciência demonstra serem inseguros, ambientalmente destrutivos e desnecessários. A transição ecológica não pode ser feita à custa da segurança geográfica e comunitária. Ao mesmo tempo, provas de peritos sugerem que devemos reduzir ao máximo a procura de lítio, investindo na reciclagem e, assim, reduzindo a necessidade de novas minas”.

“Estudos independentes constataram que os planos de gestão de resíduos mineiros e de água do projeto podem conduzir a contaminação e falhas catastróficas em períodos de chuva intensa, ameaçando a agricultura, os meios de subsistência locais e até a famosa região vinícola do Douro. Além disso, um estudo recente do especialista Douw Steyn identificou falhas graves na avaliação da qualidade do ar do projeto da Mina do Barroso”, lê-se ainda no mesmo documento.

O representante da MiningWatch Portugal, Nik Völker, salientou que a decisão “mostra que a UE está disposta a trocar vidas rurais e paisagens insubstituíveis por um título político. Chamar algo de ‘projeto estratégico’ não o torna seguro ou sustentável. A verdade é que a Mina do Barroso oferece benefícios mínimos e enormes riscos: um exemplo claro de como não fazer uma transição ecológica”, aponta citado.

A mina de lítio, proposta pela Savannah obteve uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada em 2023 e a empresa prevê iniciar a produção em 2028.

Esta quarta-feira, a Savannah disse, em comunicado, que foi convidada pelo vice-presidente da Comissão Europeia e comissário para a Prosperidade e Estratégia Industrial, a participar numa reunião, em Bruxelas, que se centrou na situação atual do setor e no futuro Plano ResourcEU que será apresentado em dezembro.

 

Sara Esteves

Foto: DR


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27/11/2025

Sociedade

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