Aguiarenses mantêm a tradição de reunir as famílias no Natal

Cada família tem as suas próprias tradições de Natal, e até o que se coloca na mesa na consoada varia de casa para casa. O Notícias de Aguiar foi saber como é o Natal dos aguiarenses, o que se lembram das suas infâncias, e quanto gastam, em média, nesta festividade.

Natural de Sampaio, localidade na freguesia e concelho de Vila Pouca de Aguiar, Helena Lamas, de 63 anos, passa o Natal com o marido, os três filhos – Elisabete, Marco e Patrícia - e os três netos e, para si, passar o Natal em família é a real tradição natalina.

Também considera importante a união na confeção do jantar no qual não pode faltar a Chorrovia, ou Cherovia, uma raiz comestível semelhante a uma cenoura pálida comsabor mais intenso e adocicado, que tinha acabado de comprar. Coloca na mesa a “típica batata, a couve e a chorrovia, o bacalhau e o polvo.

A maioria dos doces de Natal são feitos em casa, e são considerados os “doces pessoais”, como o leite frito, e as broinhas de frutos secos, e faço um bolo rei de chocolate, porque tenho um filho que eu chamo de guloso, que é o doce de que mais gosta”.

Helena Lamas refere que, ainda fazendo parte da tradição familiar “e como recordação” para os mais velhos, também na mesa dispõe “bolos de bacalhau, que o meu marido adora, rabanadas e um bocadinho de aletria”, afirmando mesmo que é obrigatória incluí-los no menu de Natal. A aguiarense explica ainda que não coloca açúcar na maioria dos doces porque é pré-diabética “e aquele que queira açúcar, põe individualmente”.

Quanto à logística, a anfitriã vai dividindo os preparativos entre o dia 23, como o leite frito que tem de arrefecer bem para fritar no dia seguinte, e o dia 24, onde confeciona as broinhas de frutos secos, faço-as de manhã no dia 24, para estarem mais fresquinhas, edepois coloco numa latinha e estão molinhas toda a semana.

Na família Lamas trocam-se prendas e “cada um oferece o que pode, uns têm mais, outros têm menos, às vezes fazemos um pacto de que não há prendas para a gente adulta, só há para as crianças, mas há sempre alguém que compra e acabamos por comprar todos”. A entrevistada revela que já tem todas as prendas compradas e que gastou, em média, cerca de 300 euros.

É com alguma mágoa que Helena Lamas afirma que gosta “muito destas festas, porque acho das festas mais alegres do ano mas, às vezes, as mais tristes, porque as cadeiras vão ficando vazias. Temos a tradição de pôr na mesa os pratos dos entes queridos que já não estão”. 

Relembra que, oriunda de uma família com 9 irmãos, era na casa dos pais que se reuniam, e houve anos em que “comprávamos a comida entre todos, e jantávamos todos juntos”. Confessa que já não consegue cumprir esta tradição por já não ter os seus pais, por os irmãos começarea passar com as respetivas famílias”. Nesta nova adaptação, o que passou a fazer a família de Helena Lamas foi “no fim de jantar, íamos dar uma voltinha à casa dos familiares todos. Levávamos os confeitos num saquinho no bolsoe ainda hoje conservo isso, só que às vezes vejo-me mal para os encontrar”. A aguiarense explica o que são os confeitos. “É um docinho, como se fosse uma amêndoa, só que a amêndoa é lisa e comprida, e o confeito é redondinho e tem uns biquinhos, e há de muitas cores”. Outrora iam a casa dos seus avós, pais e dos seus sogros e restantes familiares e agora vão a casa dos seus irmãos e cunhados. Ainda assim, admite que “não era como antes. Nós não nos deitávamos porque eu e os meus cunhados ficávamos a conviver na fogueira, íamos para casa às quatro ou cinco da manhã, e eu estava a estufar moelas e a aquecer alheiras, porque já tínhamos fome. Hoje já não se faz nada, porque tudo faz mal, então convivemos um pouco mais em minha casa, entre nós, e eu gosto muito”. A anfitriã revela que “antes de começar a comer, temos a típica reza ou cântico para que Deus nos dê paz e saúde, e às vezes é o senhor Padre que nos dá, ou às vezes é uma neta que gosta muito de fazer isso. Damos a mão a todos, rezamos, pedimos o que temos a pedir, e então depois jantamos”, conclui Helena Lamas.

 

Filomena Santa, de 67 anos, diz que “sempre aqui vivi”, referindo-se a Vila Pouca de Aguiar e salienta que “o Natal é junto com a família, temos sempre a consoada, e no almoço do dia seguinte também nos juntamos”. São cinco irmãos e costumam reunir cerca de 20 a 25 pessoas nas festividades natalícias e já tiveram de mudar o local, de casa de Filomena Santa para a casa de uma irmã, por não caberem todos na mesma sala.

No dia da consoada de Natal da família têm “uma mesa pequenina para os fritos tradicionaispara os frutos secos, e para o que as pessoas vão levando, porque normalmente todos vão participando com alguma coisa”. Quanto à refeição em si, Filomena Santa refere que “não falta o bacalhau, o polvo e as couves”. 

Já a nível de doces, são feitos pelos vários irmãos. A entrevistada menciona que há uma sobremesa que faz “há quase 40 anos, que vi numa revista para crianças da Rua Sésamo, que é uma salada de frutos secos, que já se tornou numa tradição. Há alguns elementos da família que não gostam e eu não fiz num ano, toda a gente protestou, mesmo os que não gostavam, porque achavam que tinha que ser, de maneira que eu faço essa salada”.Filomena Santa explicou como a faz, “é no género das peras bêbadas, os ingredientes são quase os mesmos, vinho, água, açúcar, casca de limão e pau de canela, e leva ameixa seca, alperce e passas de uva. Depois deixa-se algum tempo a ferver, e põem-secubinhos de maçã para os amaciar, retira-se do lume e deixa-se arrefecer”. Também há na mesa da família “rabanadas, os bolos de abóbora, tenho que fazer sempre os sonhos, porque agora o pessoal também gosta muito e reclama se não faço”.

Avança a aguiarense que antes ofereciam prendas uns aos outros, mas agora “aos miúdos vamos dando prendas, e cada adulto leva uma prenda que depois é sorteada no próprio dia”.

Já no dia de Natal “temos quase sempre, como é tradição aquio cabrito. Em casa quando era com a minha mãe, era o cabrito ou o cordeiro.  Agora o pessoal gosta muito de leitão, normalmente já é leitão e cabrito. no ano passado, para aqueles que não gostam, também já tivemos um bocadinho de peru, porque já há um leque muito grande de idades, que vai dos dois aos 94 anos”.

Filomena Santa diz que gasta “muito dinheiro” uma vez que “só o polvo, o bacalhau e o cabrito vão para uns 500 euros, porque as couves, batatas e azeite já temos em casa. Salienta ainda que vai comprando os produtos em diversos sítios e só o faz em comércios locais e não em grandes superfícies.

Apesar de nem sempre ser possível reunir a família toda, já sabe que esta quadra natalícia acaba por juntar grande parte dela. “Os meus sobrinhos estão espalhados por vários lugares e, portanto, é muito difícil reunirsó no Natal na Páscoa é que nos juntamos, disse Filomena Santa.

Para Maria da Anunciação Pereira, de 65 anos, vinda de Alfarela de Jales, o Natal tem de ter “bacalhau e polvo à noite, na consoada” e ainda a árvore de Natal decorada e “pôr os presentes para os meus netinhos”. A aguiarense passa a festividade natalícia com a filha, o genro e os dois netos.

Na mesa desta família é costume ter “bolos de bacalhau, rabanadas, aletria, uns docitos, e o bolo rei”, tudo confecionado em casa.

“Nesta altura do Natal gasto mais um bocadinho”, disse Maria da Anunciação Pereira, “mas para lhe dizer a verdade não sei quanto gastei”.

A nível de tradição, abrem os presentes à meia-noite, e os netos “estão sempre ansiosospara abrir as prendas”.

É com nostalgia que Maria da Anunciação Pereira relembra os seus Natais de há alguns anos. “Antigamente não tínhamos tanto. Passava com a minha avó, vinha cá uma tia minha do Porto, e trazia uma camisola para cada sobrinho, que era eu e os meus primos, e trazia um bolo rei, e era uma alegria. Já cá, fazia o bolo frito e cozido, e os bolos de bacalhau e as rabanadas, e ainda me lembro bem disso”, acabou por contar, já com alguma emoção.

Não é natural de Vila Pouca de Aguiar mas Maria Dinis, de 44 anos, veio para cá viver há cerca de seis meses, apesar de já trabalhar na freguesia há alguns anos. Veio do Porto, e posteriormente de Vila Real, e estava acompanhada da filha, Mafalda, de 5 cinco anos. “O nosso Natal é em família, sempre. Tanto com a minha família, como a família do meu marido, e é em casa, com a família toda reunida”. Maria Dinis refere-se às cerca de 20 a 24 pessoas, que incluem os “irmãos, pais, avós nós já não temos, só os avós da Mafalda, primos e tios”.

É hábito colocar na mesa da consoada desta família o “bacalhau, e depois no dia de Natal temos o peru e arroz de polvo, por norma”. A portuense diz que têm poucos doces natalícios, como “a aletria, as rabanadas e leite creme, e depois vamos para os doces normais por causa dos miúdos, como mousses e bolo de chocolate”, tudo confecionado de forma caseira.

As prendas são compradas e “por norma, dizem o que é que pretendem. Já fizemos amigo oculto, agora já não fazemos. As pessoas dão sugestões e quem tiver disponibilidade de ir encontrar as sugestões faz assim, senão, é o que surgir no dia, ou tenta-se adaptar à pessoa”, explica. Abrem as prendas à meia-noite e “a nossa tradição é essa, é a reunião familiar, em que estamos todos juntos”.

Uma outra tradição que se “fazia quando eu era pequena, e agora que também há pequenos volta a fazer-se, é a chegada do Pai Natal, há sempre um membro da família que…”. Nesta altura, para não quebrar a magia, Maria Dinis olha para a filha e tenta falar de forma mais cautelosa. “Portanto, aparece o Pai Natal e é um momento engraçado em que quem ainda acredita e não consegue identificar, acha muita piada, porque ele traz alguns presentes”. Mafalda não sabe quantos presentes vai receber mas, no catálogo dos brinquedos, fez vários círculos, um deles numa boneca e outro numa “pista de carros”. 

A mãe, Maria Dinis, confessa que ainda não havia comprado prendas pois ia justamente começar a comprá-las, mas acredita que “como compro sempre à última da hora, gasto um bocadinho mais, e devo gastar à volta de 600 euros”, refere.

Texto e fotos: Ângela Vermelho


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23/12/2025

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