Irmãs produzem velas artesanais de soja natural
Mariana e Juliana Carvalho são irmãs e, juntas, fundaram há um ano e meio um projeto de velas artesanais de soja natural, que começou inicialmente por ser um hobby. Com o tempo, e após verificarem o interesse de amigos e colegas, perceberam que era uma oportunidade de negócio por não haver velas artesanais com formatos personalizados na região.
Nascidas e criadas em Pedras
Salgadas, na freguesia de Bornes de Aguiar, ambas têm uma vida profissional fora
da criação das velas, inserida na área da hotelaria. Com 27 e 21 anos, Mariana
e Juliana queriam desfrutar das refeições no terraço de casa, mas sem a
presença incómoda das moscas. Em vez de comprarem, começaram por adquirir um
pequeno kit básico para produção de velas de citronela, conhecida por repelir
estes insetos, e foi aí que se deu o início de todo o projeto.
As iniciais dos nomes das
fundadoras dão origem ao nome do projeto, JM Velas Artesanais, que foi fundado
a 9 de abril de 2024. Com o kit das velas de citronela com cera de soja e,
utilizando o molde de uma rosa, fizeram a sua primeira vela. Gostaram bastante
do resultado, tomaram-lhe o gosto e decidiram fazer mais velas que,
inicialmente, seria para decoração da própria casa. Acabaram por adquirir mais
moldes e experimentar este novo hobby. As primeiras velas ainda estão expostas
em casa.
Ao mostrarem aos amigos e colegas
de trabalho as suas velas produzidas de forma artesanal em casa, as pessoas
começaram a mostrar interesse devido aos formatos das mesmas. “Não é normal ver
velas em formatos, não é assim tão comum aqui na zona, é mais as velas de
cemitério” explica Juliana, que rapidamente chegou à questão “porque não fazer
para vender?”.
Uma vez que não tinha
conhecimentos sedimentados sobre o tema, foi então que Juliana iniciou um curso
integrado de iniciação de velas em molde, velas em recipiente e produção de ‘wax
melts’, que são pedaços de cera com aroma que se colocam nos queimadores de
cera. “Eu tirei um curso, estudei um bocadinho
mais sobre o assunto, e depois começámos a fazer para venda”, diz Juliana.
Demorou perto de quatro meses a tirar o curso online porque, relembra, o tempo
alocado ao projeto era consoante o tempo que tinha disponível fora do horário
laboral.
O curso serviu para se
especializar na produção de velas pois no início debateram-se com alguns
problemas, “ou rachavam ou tinha essência a mais (…), ou a menos, e não
cheiravam tanto”. Juliana salienta ainda que também a matemática é muito
precisa nesta arte e Mariana acrescente que “tem uma equação para acertar nas
medidas exatas da cera, da essência, da temperatura, da coloração, que não podemos
colocar a mais porque estraga a cera, há muitos cálculos para correr bem”.
Neste processo, perceberam que havia viabilidade de negócio e seguiu-se um
estudo dos materiais que iriam precisar para concretizarem e avançarem com o
projeto.
Vantagens da cera de soja
Preocupadas em entregar aos
clientes uma vela de qualidade, pesquisaram e reuniram conhecimentos sobre as
melhores matérias primas até chegarem à cera de soja que, apesar de ser mais
cara, e influenciar o valor do produto final, é mais natural e não é
prejudicial para a saúde. “As pessoas estão mais habituadas à cera de parafina que
contém petróleo. Já vimos e fizemos estudos e a parafina contém uma percentagem
de 75% petróleo, se não me engano, e é prejudicial para as crianças e animais”,
refere Mariana e Juliana complementa que “pode também influenciar na parte do
cancro”.
Também o pavio foi alvo de
estudos. “Nem todos os pavios são próprios, a maior parte já vem com uma
película por fora, feita de parafina que, ao acender, deita fumo e também pode
ser prejudicial”. As irmãs utilizam pavios parecidos a pano/tecido que “ao
queimar criam fumo limpo, não é fumo preto, queimado, e não tem parafina no
pavio”, explica Mariana.
A vela de soja permitia também a
utilização de óleos essenciais naturais com fragâncias diversas e ainda um
leque variado de coloração a impregnar nas velas, levando à possibilidade de
personalização total das velas ao gosto do cliente.
“Foi um sucesso
completo, não tínhamos mãos a medir”
A dupla de irmãs acredita que teve
“sorte” no lançamento porque “começámos o site em abril, no dia 9 e no dia da
mãe era logo a seguir, em maio, ou seja, começamos a pôr as ideias na internet,
com alguns moldes, e as pessoas começaram a achar piada e a dar uma vela com
cheiro de presente no dia da mãe”, explica Mariana. Juliana reforça o discurso
da irmã, “foi a loucura total logo no primeiro teste, porque nem estávamos à
espera de ter tanto sucesso logo naquela entrada, foi sorte de termos apanhado
o dia da mãe e de as pessoas terem gostado por ser uma coisa diferente”. Frisam
ainda que nesta efeméride tiveram de fechar os pedidos por receio de não
conseguirem corresponder a todas as encomendas.
Produção familiar
Na época, as velas eram todas
produzidas pelas irmãs que, devido ao sucesso, tiveram de contar com o apoio da
mãe, Fátima Peixoto. As irmãs admitem que, no início a mãe “não gostou da ideia”
uma vez que tomaram conta da cozinha de casa, numa produção familiar, mas que
depois “lhe foi agarrando o gosto”. Também é com o apoio fundamental da mãe que
conseguem estar presentes nas feiras locais. Mariana e Juliana confessam que
sem a ajuda da mãe “seria complicado, já tínhamos desistido”.
Costumam fazer a feira dos dias 5
e 25 em Vila Pouca de Aguiar, assim como a presença no Mercado Municipal às
sextas-feiras. Também as feiras sazonais, de Natal, das cebolas, do mel, fazem
parte do calendário da JM Velas Artesanais.
Pedidos de clientes obrigam a inovar e a criar novos produtos
“É um processo em crescimento, neste momento
temos cerca de 500 formas em casa, com todos os armários ocupados”, refere
Mariana, que diz ainda que até nos quartos de ambas há formas guardadas. As
personalizações de produtos são uma prioridade para as produtoras de velas que
salientam que é com os seus clientes que crescem. “Aprendemos aos poucos, tanto
com os estudos que fazemos, como com o que os clientes nos dizem, e é por isso
que aceitamos todos os feedbacks dos clientes para conseguirmos melhorar”.
Foi nesta linha que chegaram a um
novo tipo de produção complementar às velas, a jesmonite, que surgiu após
pedidos de clientes que precisavam de uma base para acenderem as velas. “A
jesmonite é uma espécie de cimento, ou seja, é um líquido e um pó que misturamos
e que depois seca, lixamos como se fosse cimento, e impermeabilizamos, acaba
por ser um prato de pedra, por assim dizer”. A vantagem, dizem, é que é
“bastante durável e que se pode colocar coisas com água porque não mancha”.
Juliana tornou a estudar, angariando
mais um curso, para poder trabalhar melhor o novo material, onde, mais uma vez
“são precisos cálculos”. Além de pequenos pratos para acender as velas, a
jesmonite também passou a ser utilizada para produzir copos de velas e ainda
caixas porta-joias, tudo personalizado.
“Vamos tentar corresponder ao que os nossos clientes precisam”
“Nós vamos sempre
ouvindo as ideias dos clientes”, refere Juliana. Explicam que têm tido pedidos
para produção de sabonetes, mas há trâmites a seguir na sua confeção. Mariana
adianta que os produtos “têm que ser 100% naturais” e “temos de fazer testes
próprios, têm que ser mandados para uma entidade, para saber se não faz mal à
pele das pessoas, têm que ser testados dermatologicamente para termos a noção de
que não vai criar uma reação alérgica”. Não baixando os braços, garantem que
vão estudar mais sobre o tema.
Outra sugestão da
parte dos clientes é a produção de cheiros para colocar nos roupeiros, para os
quais, diz Mariana “já temos os moldes”. Dada a natureza da cera de soja,
também um outro produto a ser estudado serão os óleos para massagens.
O exemplo das ‘wax
melts’ “veio da necessidade de alguns clientes porque tinham casas com uma área
mais aberta e precisavam de algo que perfumasse a área toda. Então optámos pelas
‘wax melts’ que têm uma percentagem maior de essência”. Mencionam ainda outra
vantagem deste produto que, ao contrário da vela que termina se já não houver
pavio, as ‘wax metls’ ao serem colocadas no queimador, derretem e podem “ferver
sempre até terminar a essência”, revela Juliana.
Numa outra linha, a
JM Velas Artesanais apresenta ainda um dos produtos que “tem mais saída”, com
os arranjos florais onde misturam velas em forma de flores, com flores secas,
reproduzindo ramos. Têm várias vertentes, mas destacam o ramo eterno. A ideia
surgiu devido ao “casamento da minha melhor amiga”, explica Mariana. “Na
altura, ela queria eternizar o ramo dela e nós queríamos dar-lhe essa prenda,
por isso, começámos a procurar maneiras de encontrar moldes mais parecidos ao
ramo dela e eternizar o ramo com as mesmas cores do original”. Juliana refere
que surgem muitos pedidos como prendas de aniversário, “queres dar um ramo de
flores, mas acabam por murchar, e os ramos eternos são uma prenda quase com o
mesmo valor, e acabam por durar mais e cheiram bem”.
Uma outra ideia que
pretendem implementar são os workshops de produção de velas com cera de soja
para os quais estão a reunir as condições necessárias.
Ângela Vermelho
Fotos: Cláudio
Reguengo/JM Velas Artesanais
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26/11/2025
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