Feira dos Santos em Vila Pouca de Aguiar com menos afluência do que em edições anteriores
A anual Feira dos Santos em Vila Pouca de Aguiar decorreu na sexta-feira, dia 24 de outubro, juntando-se a uma das feiras regulares que acontecem duas vezes por mês. Este ano, dizem os feirantes, houve menos afluência. A organização do espaço, a escolha recair a um dia de semana, o menor poder de compra, o facto de chover, ou até a venda online, foram os principais fatores apontados.
A chuva e a temperatura mais baixa
não ajudaram à Feira dos Santos de 2025. Os feirantes protegiam as suas bancas
com toldos e plásticos para não danificar os produtos, mas de forma a que se
mantivessem visíveis aos visitantes. Não era difícil circular o que significa
uma menor quantidade de pessoas a percorrer os corredores da feira. O Notícias
de Aguiar foi falar com feirantes e visitantes para ter um panorama sobre a
feira.
O lado do comércio
José Nascimento tem 65 anos, é
feirante de roupa, presença habitual aos dias 5 e 25 de cada mês nas feiras
regulares em Vila Pouca de Aguiar, e por cá faz comércio há mais de 40 anos. Está
na sua localização habitual na feira, na Praça Vermelha, e admitiu estar
revoltado com a organização do espaço, onde diz que é dada prioridade aos
feirantes que vêm apenas uma vez por ano. “A afluência tem sido fraca porque há
pessoas que vêm cá uma vez por ano, só neste dia, e têm os melhores lugares. No
lado de lá está aquilo cheio de gente e aqui não”. José Nascimento refere-se à
Rua Comendador Silva, fechada para o efeito, onde são colocados os feirantes
que vêm apenas para esta feira anual. Aponta como possível solução colocarem
estes feirantes mais próximos da Praça Vermelha, “ao pé de nós, e já era capaz
de estarmos melhor”. Admite ainda que, “apesar de se ir vendendo”, é nas feiras
regulares que costuma fazer mais vendas, uma vez que, diz José Nascimento, “uma
feira normal é melhor que a de hoje”.
O feirante quis ainda apontar
outra questão, como o facto de a data da feira ter sido antecipada para
sexta-feira, para um dia de semana, impedindo visitantes que trabalhem durante
a semana de a ir visitar. “A feira devia ser no dia dela [25, sábado], as
feiras dos Santos e as de ano deviam ser no dia que calham (…). A feira devia
ser amanhã [sábado], no dia dela, porque seria muito melhor, vinha mais gente
que não trabalha”. Refere ainda que, do que tem visto, as feiras de ano estão a
ser mudadas para os fins-de-semana para atraírem mais gente, e acrescenta “se
fosse sábado ou domingo, vinha gente de Vila Real e de todo o lado”.
Também de uma outra banca,
localizada no mesmo espaço, mas que não se quiseram identificar, ouvimos algum
pesar em relação à localização dos restantes feirantes e ao “abandono” que
sentiram na Praça Vermelha.
Maria do Carmo Giroto, de 62
anos, é de Lamego e já é presença habitual nas feiras regulares de Vila Pouca
de Aguiar, há pelo menos 35 anos, onde apresenta louça regional de Barcelos, no
largo em frente ao Tribunal. Refere-se à afluência como “muito fraca, talvez
derivada do tempo”, mas indica que “não é só aqui, é em todo o lado, não há
dinheiro, não há mesmo dinheiro, as pessoas querem comprar, mas não há dinheiro”,
remetendo para outras feiras que faz. “Ainda por cima o meu produto não é de
primeira necessidade, então as pessoas não compram tanto”, explica.
A comerciante deixa ainda um
apelo geral às entidades municipais. “Eu acho que as Câmaras deveriam pensar em
nós e baixar um bocadinho os preços do que pagamos, o gasóleo é caro, tudo é
muito caro, e nós ocupamos aqui um dia, se tanto, e então deveriam pensar mais
nisso. E não é só aqui, estou a falar a nível geral, pensarem nos lugares que
são muito caros”, remata Maria do Carmo Giroto.
É entre clientes que Maria
Manuela Pinto, com 62 anos, nos dá a entrevista. Vem de Penafiel, é assídua há
15 anos nesta feira anual, e vende “miudezas”, referindo-se a meias e diversos
tipos de collants. Em relação a edições anteriores, indica que a afluência “está
pior que os outros anos, mais fraca” e que não está a vender os seus produtos.
Tal como Maria do Carmo Giroto, também Maria Manuela Pinto frisa que “não é só
esta feira, são as feiras todas”. Contudo, dá uma razão diferente. “Eu acho que
são os diretos, as vendas online” a razão de “não se ver povo na feira, e a
tendência é piorar”. Do que vê, sabe que há “muita gente a desistir por não se
aguentar com as despesas dos lugares”.
Para reverter esta situação,
Maria Manuela Pinto afirma que devia haver mais fiscalização nas compras online
em diretos cujos vendedores “nem sequer estão coletados, é o grande problema.
Não pagam direitos, nem Segurança Social, não pagam nada, e nós pagamos tudo
isso”, lamenta.
Afirma que os seus produtos mais
baratos, os packs de três collants a cinco euros, “ainda vão saindo, agora o
meu filho, aqui ao lado, já não consegue, se não fosse eu a ajudá-lo era
complicado”. Na banca do lado estava a nora e a feirante explica que o filho
“já optou por outra vida, faz festas com uma rulote de crepes e farturas”.
O lado do visitante
Com 61 anos, Maria Cristina Oliveira é da aldeia de
Gralheira, na freguesia de Telões, e fez-se acompanhar pelo esposo. Frequentam
a Feira dos Santos há 15 anos com o propósito de comprar “meias, chinelos,
calças, camisolas, casacas, coisas quentes para os meus filhos”, diz Maria Cristina
Oliveira, que acrescenta que já sabe ao que vem e a que sítios ir comprar. Ambos
com vários sacos na mão, revelam que já tinham ido à carrinha deixar outros
tantos. Conta que conseguiram comprar tudo o que vinham à procura e, em relação
aos preços, avança que “do ano passado para este ano estão iguais”.
Residentes na freguesia de Vila Pouca de Aguiar, o
casal Avelino Gomes, de 78 anos, e São Borges, de 76, mostram um outro lado que
a Feira dos Santos pode trazer, uma vez que a frequentam, sobretudo, pelo
convívio. “É para passear, conversar, porque se encontra muita gente conhecida,
e passa-se aqui um bocado de tempo”. Em dia de chuva, e apesar do propósito do
passeio, acabaram por comprar um guarda-chuva. “Gostei muito do padrão e já
precisava de um novo”, comenta São Borges. Aconselham a que se visite a feira,
contudo deixam também uma nota em relação à organização do espaço. “A parte da rua
está muito deserta, deviam orientar as coisas de maneira que não se
concentrassem só aqui, porque realmente a parte de cima, na praça, fica vazia”.
Apesar desta questão, admitem que “há que admirar a extensão da feira que é
extraordinária”.
Da aldeia de Fontes, na freguesia
de Soutelo de Aguiar, encontramos Maria de Jesus Machado, de 55 anos, que
frequenta a Feira dos Santos praticamente desde que se lembra de existir. Quanto
às compras, revela que nem sempre compra os mesmos produtos, depende do que
precisa nesta altura. Este ano conseguiu comprar o que necessitava como
“farrapinhos, chinelos, guarda-chuva”. Afirma que os preços se mantêm, “são
mais ou menos os mesmos, não varia nada, todos os anos é igual”. Também
salienta “o passeio” e a componente social da feira. “É tradição, o povo
convive, há pessoas que a gente já não vê há muito tempo e gosto de vir ver, é
mais um ano que passa”, conclui Maria de Jesus Machado.
Texto e foto: Ângela Vermelho
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27/10/2025
Economia
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